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Pandemia de coronavírus e quarentena mudaram a forma dos franceses encararem o consumo

29/05/2020 16h02

A partir de terça-feira (2), os franceses entrarão na segunda etapa de suspensão das medidas restritivas adotadas durante a quarentena contra o coronavírus, em meados de março. A reabertura programada de cafés, restaurantes, museus, parques, piscinas, academias de ginástica e teatros, além de um número maior de escolas, é mais um passo na direção da normalidade. Mas as medidas de distanciamento social continuam em vigor e os hábitos de consumo dos franceses mudaram durante a epidemia.

Os franceses entram na segunda fase de reconquista de liberdade e espaços com outra postura, principalmente na região parisiense, que ainda está classificada como uma zona laranja no mapa da pandemia. A circulação do vírus diminuiu consideravelmente em todo o país, mas ainda preocupa na região Île-de-France, onde fica a capital.

Desde a reabertura do comércio de rua, há três semanas, a frequência de clientes nas lojas registra uma queda de 30% a 50% em relação ao período anterior à epidemia. O consumo das famílias recuou 34% no mês passado.

Um novo jeito de consumir vai se instalando aos poucos entre os franceses: mais compras pela internet ou perto de casa. Os deslocamentos de carro ou transporte público para fazer compras diminuíram sensivelmente. Por outro lado, os comerciantes notam que algumas pessoas que decidem ir até as lojas gastam mais, como se elas estivessem tentando colaborar para a recuperação da economia.

Setores como moda e calçados ainda não retomaram a clientela habitual. Por outro lado, a compra de bicicletas quadruplicou. As lojas de eletrodomésticos, decoração e material de construção também têm atraído mais clientes.

Neste sábado (30), a Galleries Lafayette, que é considerada um templo do consumo em Paris, vai reabrir ao público. Vai ser um bom termômetro para medir se há de fato uma nova tendência nessa área.

Franceses elegem três prioridades para o mundo pós-pandemia

Uma consulta pública sobre as prioridades no mundo pós-pandemia, lançada em 11 de abril - já no meio da quarentena - pelas ONGs WWF, Cruz Vermelha e Make.org, apontou 14 prioridades na avaliação de 165.000 franceses que participaram dessa iniciativa. As três propostas mais votadas foram a criação de circuitos curtos de produção, a adoção da agroecologia em larga escala e a relocalização da produção de bens estratégicos no território francês, como medicamentos, máscaras e carros, por exemplo.

Os participantes enviaram 20.000 propostas. Depois, elas foram votadas. Algumas foram rejeitadas, como a adoção de um programa de renda universal, a proibição da 5G e a redução do tempo de trabalho. Mas a maioria das pessoas manifestou o desejo de viver num mundo mais ecológico e focado na produção local.

Em abril, 843.000 pessoas se inscreveram na agência nacional do emprego em busca de trabalho, declarando nenhuma atividade remunerada. Isso representa um salto de 22% no intervalo de um mês. A França tinha, em abril, 4,5 milhões de desempregados.

Essa pandemia expôs e agravou as desigualdade sociais, e a França, apesar de ser apresentada como um país desenvolvido, não escapa dessa realidade. Existe um questionamento profundo sobre a necessidade de mudança de modelo econômico.

O presidente Emmanuel Macron criou uma nova comissão de especialistas para ajudá-lo a pensar no mundo de amanhã, como ele fez com o conselho científico de 11 médicos que o assessoraram nas decisões sobre a Covid-19. Agora, Macron se cercou de 26 economistas franceses e estrangeiros para trabalhar em três "grandes desafios econômicos globais" no contexto pós-coronavírus: clima, desigualdades e demografia.

A equipe tem pelo menos três prêmios Nobel de Economia - o francês Jean Tirole, os americanos Peter Diamond e Paul Krugman -, o ex-vice-presidente do Banco Mundial Nicholas Stern, especialista em economia do clima e ex-consultor de Bill Clinton, e Laura Tyson, uma expert em combate às desigualdades. Macron considera que a necessidade de transformar a economia para salvar o planeta exige a superação de dogmas econômicos em escala francesa, europeia e internacional. Ele deu prazo até o final de dezembro para essa comissão apresentar propostas nessas três áreas.