Topo

França lança aplicativo de rastreamento para evitar alta de contaminações com fim da quarentena

02/06/2020 15h24

A França entrou nesta terça-feira (2) na segunda fase de flexibilização da quarentena. A vida no país voltou quase à normalidade, mas ao mesmo tempo que a liberdade, os franceses ganharam o aplicativo de rastreamento "StopCovid", lançado pelo governo para evitar a temida segunda onda de contaminações. Mas a ferramenta gera polêmica.

A epidemia de coronavírus recua no França, mas o vírus continua circulando e as autoridades de saúde estão em alerta para detectar o mínimo sinal de aumento das infecções, principalmente agora com a segunda fase de relaxamento do confinamento.

O aplicativo de rastreamento StopCovid é destinado a ajudar o controle da propagação do vírus. Mas o lançamento acabou acontecendo com algumas horas de atraso, levando internautas franceses a baixar inadvertidamente o aplicativo catalão Stop Covid 19 CAT, segundo a empresa especializada AppAnnie. O StopCovid francês passou a ser disponibilizado a partir das 16h, pelo horário local (11h em Brasília).

Inicialmente, o aplicativo deveria ter sido lançado em 11 de maio, primeira fase de flexibilização da quarentena no país. Mas devido às várias críticas e polêmicas sobre a violação das liberdades individuais, seu desenvolvimento acabou atrasando. Vários testes foram feitos para evitar atos de pirataria e o governo acabou optando pela tecnologia bluetooth dos smartphones para garantir uma maior privacidade aos usuários.

Utilização voluntária

A utilização do StopCovid é voluntária. O telefone de um usuário que teve um teste positivo para a Covid-19 previne todas as pessoas que ele cruzou a menos de um metro, durante 15 minutos, que eles podem ter sido contaminados. Os suspeitos de terem sido infectados são convidados a fazer um teste e, se positivos, a respeitar medidas de isolamento social.

Para que o dispositivo seja eficaz, o governo pede a adesão dos franceses. "Precisamos que o maior número possível de pessoas tenham o aplicativo", afirmou o secretário de Estado para a Tecnologia Digital, Cédric O. No caso de uma segunda onda de infecção, o executivo já advertiu que pode adotar novamente medidas de confinamento, em particular restrições à circulação.

Mas um novo confinamento seria um duro golpe para a economia. O governo calcula que o PIB da França pode cair até 11% em 2020. "O país vai ter que lutar contra o impacto de uma recessão histórica", alertou o primeiro-ministro Édouard Philippe.

Críticas

O StopCovid é criticado pelos especialistas em informática e por juristas. Eles veem no aplicativo um primeiro passo em direção a uma sociedade vigiada, onde todos nossos gestos seriam rastreados em permanência por sistemas digitais automáticos.

O governo acredita que este é o único instrumento capaz de prevenir as pessoas potencialmente contaminadas em locais onde um doente não pode identificar todo mundo que cruzou. Ele se destina principalmente aos locais públicos, como os transportes. O aplicativo foi desenvolvido sob a tutela do Instituto de Pesquisa em Informática francês (INRIA) e contou com a participação de empresas privadas francesas.

Vários países, como a China e a Coreia do Sul, lançaram aplicativos similares para rastrear os doentes de Covid-19. Em alguns deles, o instrumento foi um fracasso. Na Austrália, seis milhões de pessoas instalaram em seus celulares o CovidSafe, mas o aplicativo permitiu identificar apenas um caso positivo de coronavírus, de acordo com uma informação do jornal britânico The Guardian.

Por enquanto, é impossível saber quanto franceses vão baixar o aplicativo. Vários críticos lembram que 25% da população não possui um smartphone, principalmente os idosos que são os mais vulneráveis à doença. Mas Cédric O não cansa de repetir que uma única contaminação evitada graças ao StopCovid já será um sucesso.

Quanto aos riscos sobre a segurança dos dados dos usuários, o secretário de Estado para a Tecnologia Digital concede que o risco zero não existe. "Não posso garantir que a segurança é total, mas nós tomamos o máximo de precaução", garante. O futuro dirá se algum hacker ou pirata mal-intencionados vai estragar os planos dessa iniciativa francesa.