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"Tire seu joelho do nosso pescoço!": o grito dos manifestantes em frente à Casa Branca

Protestos contra o racismo continuam nos EUA

06/06/2020 16h17

Milhares de manifestantes invadiram o centro de Washington hoje para protestar contra o racismo e a violência policial nos Estados Unidos, em um dia marcado por uma nova cerimônia em homenagem à memória de George Floyd. Entre os cartazes vistos nos arredores da Casa Branca, um deles dizia: "Tire seu joelho do nosso pescoço!".

Sob um sol escaldante, a multidão começou a se reunir na capital federal americana, nas ruas que levavam à Casa Branca, mas também perto do memorial de Lincoln. Foi diante desse monumento imponente que o pastor Martin Luther King, de Atlanta, pronunciou a legendária frase "Eu tenho um sonho", em 28 de agosto de 1963, num discurso histórico diante de quase 250.000 pessoas. O pronunciamento se tornou referência na luta pelos direitos civis dos negros americanos.

"Estamos de volta aqui com uma nova mensagem de esperança", disse a afroamericana Deniece Laurent-Mantey, 31 anos. A manifestação foi convocada por mais de 12 coletivos, muitos deles formados espontaneamente nas redes sociais, após a morte de George Floyd, o negro de 46 anos que morreu asfixiado pelo joelho do policial branco Derek Chauvin, em 25 de maio, em Minneapolis. O crime reacendeu as feridas raciais no país, e a população foi chamada a invadir as ruas da capital.

"Tenho a impressão de que brigamos, brigamos, brigamos e que, de repente, tudo veio à luz", congratula-se Patricia Thompson, 55 anos, em referência a todas as empresas e organizações americanas que, segundo ela, se posicionaram publicamente, pela primeira vez, "contra o racismo institucionalizado". A multidão tomou conta de grande parte do centro da cidade, que foi isolado por policiais.

Na imponente cerca erguida em frente à residência de Donald Trump, estavam penduradas máscaras das cabeças de George Floyd, Michael Brown, Trayvon Martin, Breonna Taylor, todos afroamericanos mortos nas mãos da polícia nos últimos anos. Da Casa Branca, onde passa o fim de semana, Trump continuou sua intensa atividade no Twitter sem mencionar as manifestações.

Cerimônia na Carolina do Norte

Em uma atmosfera tranquila e familiar, os manifestantes entoam o slogan "Sem justiça, sem paz, sem polícia racista". Associações distribuem garrafas de água descartáveis aos participantes, debaixo de um calor de 31°C.

A mobilização deste sábado deve ser a maior já ocorrida desde o início dos protestos, há nove dias. Os manifestantes também se reuniram em outras cidades americanas, incluindo Nova York, Filadélfia ou Minneapolis, onde Floyd morreu e onde os tumultos começaram.

Impulsionado por uma mobilização massiva nas redes sociais, o movimento se espalhou para Londres, Pretória, Paris e até Sydney, onde pelo menos 20.000 pessoas participaram de um ato similar neste sábado.

Após uma primeira cerimônia emocionante em Minneapolis, na quinta-feira, um segundo tributo a Floyd está programado para ocorrer ainda hoje em Raeford, na Carolina do Norte, seu estado natal. Novos incidentes de violência policial, principalmente durante a repressão aos protestos - às vezes violentos -, têm alimentado a revolta de americanos de diferentes origens, cor de pele e categorias socioeconômicas. Eles se uniram nas ruas para dar um basta à ferida crônica que representa o racismo institucionalizado no país. Nos últimos dias, vídeos que circularam nas redes sociais mostraram novos abusos de policiais contra manifestantes pacíficos.

Antecipando os protestos, o chefe da polícia de Seattle proibiu o uso de gás lacrimogênio por 30 dias. A polícia de Minneapolis também anunciou na sexta-feira (5) que baniu de suas técnicas de interpelação o "estrangulamento", uma prática perigosa que matou por asfixia outro homem negro, Eric Garner, em 2014. Antes de morrer, Garner também disse a seu algoz que não estava mais conseguindo respirar, como fez George Floyd, sem despertar a menor empatia do policial.

As marchas que tomam conta dos Estados Unidos vão além desses incidentes trágicos e agora denunciam o racismo sistêmico. Os manifestantes exigem mudanças reais de mentalidade da sociedade americana. A mobilização pacífica vista nos últimos dias em várias cidades, incluindo Washington, Seattle e Los Angeles, fez com que as autoridades suspendessem o toque de recolher. Mas não em Nova York, onde a medida permanece em vigor até a noite de domingo.

Com informações da AFP