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"Enfrentamos um bairro em guerra civil", diz policial que combateu acerto de contas de chechenos em Dijon

16/06/2020 13h04

Vários políticos franceses expressaram indignação nesta terça-feira (16) depois que a geralmente tranquila cidade de Dijon (leste) foi palco de mais uma noite de distúrbios relacionados a um suposto acerto de contas por membros da comunidade chechena.

Dijon, uma cidade mais conhecida por sua lendária mostarda do que por tensões interétnicas, foi palco de quatro noites consecutivas de distúrbios e cenas que chocaram a França.

Segundo a polícia, os incidentes teriam sido provocados por uma agressão ocorrida neste mês contra um checheno de 16 anos. Ele teria sido espancado e ameaçado com uma arma de fogo, segundo o jornal Le Bien Public. Membros da comunidade chechena provenientes de outras regiões da França e até de países vizinhos, como Bélgica e Alemanha, viajaram para Dijon para vingar o ataque.

Os confrontos se concentraram no bairro de Grésilles, que tem uma grande comunidade de árabes do Magrebe, região noroeste da África. Os autores do ataque ao jovem tchecheno seriam magrebinos.

Na segunda-feira à noite (15), dezenas de homens encapuzados carregando armas automáticas se reuniram em Grésilles, onde atiraram para o ar, destruíram câmeras de vigilância e incendiaram contêineres e veículos.

A polícia demorou uma hora e meia para controlar a violência, que terminou com a detenção de quatro pessoas. Pelo menos 100 policiais de diversas corporações envolvidas na segurança pública foram mobilizados para encerrar o tiroteio e prender os suspeitos.

Na manhã desta terça-feira (16), o secretário de Estado Laurent Nunez, número dois do Ministério do Interior, esteve em Dijon. Ele anunciou o envio, esta noite, de 150 policiais e militares em reforço aos efetivos locais para garantir a ordem na cidade e inibir novos incidentes.

População e membros do governo criticam ação da polícia

Moradores de Dijon ficaram indignados com a lentidão de reação da polícia. O tumulto começo por volta de 20h no horário local, na praça da República, no centro da cidade.

"Enfrentamos uma guerrilha urbana, uma guerra civil dentro de um bairro", disse Stéphane Ragonneau, secretário regional do sindicato de polícia Aliança. O secretário de Estado subordinado ao ministro do Interior defendeu as tropas. Nunez afirmou que "as investigações irão identificar os culpados e puni-los com severidade".

A violência das imagens chocou até membros do governo. "Ver jovens brandindo armas, 100 pessoas brigando, agredindo um ao outro é inaceitável", disse o ministro da Agricultura, Didier Guillaume, ao canal Cnews.

"Nosso país está afundando no caos! Gangues estão travando uma guerra étnica com armas automáticas em suas mãos", tuitou a líder da extrema direita Marine Le Pen, indicando que irá a Dijon para uma coletiva de imprensa.*

O prefeito socialista de Dijon, François Rebsamen, criticou no fim de semana o que considerou um destacamento policial insuficiente. "Como a justiça chega tarde demais e a polícia não tem os meios, a comunidade chechena decidiu aplicar sua própria lei", disse ele ao canal BFMTV.

A Chechênia é uma república russa predominantemente muçulmana no norte do Cáucaso. Duas guerras nos anos 1990 provocaram uma onda de emigração, e muitos chechenos se dirigiram para a Europa Ocidental. Mais chechenos partiram para o exílio nos últimos anos devido a suas divergências com o líder pró-Kremlin Ramzan Kadyrov, acusado por ativistas de direitos humanos de múltiplas violações.

Não há números precisos sobre o número de chechenos que vivem na França, pois estão incluídos junto com outros portadores de passaporte russo.

Com informações da AFP