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UE reforça proteção contra empresas chinesas e busca demarcar seu espaço entre EUA e China

18/06/2020 10h02

A sobrevivência da União Europeia como zona econômica e de influência política, num mundo cada vez mais polarizado pela disputa entre os Estados Unidos e a China, é analisada pela imprensa francesa nesta quinta-feira (18).

O diário conservador Le Figaro informa que os europeus buscam meios para melhor proteger suas empresas da concorrência desleal de grupos estrangeiros, principalmente chineses, que beneficiam de subvenções maciças. O desafio é continuar sendo uma região econômica aberta e atraente, mas lutar contra práticas desleais.

A Comissão Europeia delineia vários caminhos para uma reforma na área da concorrência e propõe, principalmente, exercer um maior controle das aquisições de empresas europeias, que terão de obter a aprovação de Bruxelas. Os Estados Unidos acabam de endurecer os regulamentos sobre aquisições de empresas americanas, enquanto a China mantém barreiras elevadas para proteger seu mercado, apesar do discurso de abertura. A Europa quer pesar mais no cenário internacional contra os Estados Unidos e a China, resume Le Figaro, e tenta recuperar o atraso nessa área.

O jornal especializado em economia Les Echos, um dos preferidos no meio empresarial, publica uma entrevista com o ex-diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional Dominique Strauss-Kahn. Ele considera que a zona do euro está próxima de dar um passo histórico, com o plano de relance de € 750 bilhões em debate em Bruxelas.

Strauss-Kahn destaca dois aspectos inéditos e essenciais do projeto, em sua opinião. Pela primeira vez, França e Alemanha chegaram a um entendimento sobre um real compartilhamento de dívidas entre os estados membros do bloco. "Este é um passo histórico para a zona do euro", enfatiza o ex-diretor do FMI, "principalmente porque introduz a ideia de que a União Europeia deve adquirir seus próprios recursos", levantando dinheiro nos mercados.

O economista, que quase se elegeu presidente da França, mas foi afastado da disputa por sua agitada vida sexual, incluindo acusações de estupro, diz que esse plano é o esboço de um sistema tributário europeu, que por si só é um passo decisivo para um dia alcançar a integração necessária à posição de força do bloco. "Essas duas descobertas conceituais, se forem seguidas, estão à altura do desafio, que é simplesmente o da sobrevivência da zona do euro", conclui Strauss-Kahn.

Plano de relance: como distribuir o dinheiro entre os países?

O mesmo Les Echos relata as divergências persistentes para a aprovação do pacote. Nesta sexta-feira, os líderes europeus fazem uma reunião por videoconferência para discutir um ponto nevrálgico do plano de estímulo: os critérios que serão levados em conta na distribuição dos € 310 bilhões em subsídios previstos no pacote de € 560 bilhões destinado a apoiar reformas e investimentos no bloco.

A Comissão Europeia propõe três parâmetros: a população de cada país, levando em consideração o tamanho dos estados membros do bloco; o PIB per capita, com o objetivo de fornecer um apoio mais forte aos territórios mais frágeis; e o índice médio de desemprego registrado nos últimos cinco anos, considerado um indicador relevante da resiliência econômica dos países.

Na visão do Executivo europeu, esses três critérios são benéficos para os países mais afetados pela pandemia de coronavírus, que são Itália, Espanha e França. Porém, o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, discorda de basear a distribuição dos recursos em indicadores dos últimos cinco anos. Ele sugere que se aguarde o levantamento de dados pós-pandemia, em 2021, para ter uma visão mais justa da realidade, levando em conta os efeitos dramáticos da recessão em 2020.

As negociações prometem ser rudes até a conclusão de um acordo. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que assume a presidência rotativa da União Europeia em 1° de julho, disse nesta quinta que deseja um acordo até o fim de julho. "Seria melhor se chegássemos a um acordo antes das férias de verão", afirmou a chefe de governo.

Os pró-UE também partirão mais tranquilos se seus líderes deixarem de lado os cálculos políticos, frequentemente baseados nas disputas eleitorais de curto prazo, e pensarem a longo prazo, para proteger as futuras gerações no Velho Continente.