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Paris dá largada à primeira Semana de Moda virtual, por conta do coronavírus

05/07/2020 14h00

A maison francesa Hermès deu a largada neste domingo (5) à primeira Semana de Moda de Paris virtual, por conta da pandemia de coronavírus. A situação, inédita, levará as marcas de luxo a apresentarem suas coleções em desfiles transmitidos pela internet, via redes sociais ou em plataformas especializadas.

Oficialmente, o evento começa nesta segunda-feira (6), com três dias de desfiles de alta-costura e, na sequência, a Semana de Moda Masculina. O show foi inaugurado nesta tarde com a coleção masculina da Hermès, em uma performance artística filmada ao vivo no teatro Cyril Teste.

Nas imagens, os câmeras e técnicos ganham destaque e dividem a atenção com os modelos. A estilista da moda masculina da marca, Véronique Nichanian, também aparece em ação, ajustando o blazer azul-céu de um modelo e pedindo para ele colocar uma mão no bolso, em uma coleção marcada pela descontração.

Chance de mostrar os bastidores

A performance foi filmada pelo diretor do próprio teatro e exibida no site da Hermès. "Eu me interessei particularmente por entrar nos olhos do estilista e nos bastidores, ao qual o público que frequenta os desfiles têm pouco ou nenhum acesso", conta Cyril Teste.

Para aproximar os espectadores da cena, Nichanian pede para a câmera focar no "jogo de riscas" das peças, numa pulseira de couro ou no cinto verde-limão exibido pelo manequim. Cenas dos bastidores, como um modelo fechando uma sandália, outro fazendo uma selfie logo antes de ser chamado e um terceiro escutando música também aparecem.

Em razão do contexto sanitário gerado pela Covid-19, a coleção foi reduzida a apenas 18 peças, em vez das cerca de 40 que preenchem um desfile em tempos normais. "Eu gosto da mudança. Estou sempre em busca de renovação, embora a mudança me cause pânico ao mesmo tempo em que me estimula", afirmou Véronique Nichanian. "Prefiro essa angústia à repetição. O imprevisto é criativo", sublinhou a estilista.

Compensar a magia do desfile "real" com tecnologia

Uma depois da outra, as maisons francesas, como Dior e Chanel, vão tentar substituir a magia das passarelas com surpresas tecnológica. As grandes ausentes serão Givenchy e Armani, que preferiram não participar desta vez. Londres também organizou em junho seu calendário de desfiles online e Milão fará o mesmo a partir de 14 de julho.

Via YouTube, Google, Instagram, Facebook: as grifes vão tentar manter a efervescência das fashionistas e do público na internet, apesar da falta de imagens glamourosas dos desfiles parisienses. Os eventos costumam acontecer estrategicamente em lugares míticos da capital, de onde dão a volta ao mundo e seduzem compradores.

Dilemas pós-pandemia

A indústria da moda vive uma encruzilhada: atingida pela desaceleração causada pela pandemia, alvo de críticas crescentes por incitar o consumo contínuo e por seu modelo pouco sustentável, as marcas saem da quarentena atingidas economicamente e olhando para o futuro com muitas perguntas.

"A Semana de Moda digital era a única maneira de mostrar o trabalho realizado e retomar a atividade dessas empresas", resume Gilles Lasbordes, diretor-geral do salão francês Première Vision.

Roteiros diferentes para um desfile virtual

A Federação Francesa de Alta Costura e Moda propôs que as marcas gravassem vídeos com no máximo 20 minutos. Mas estilistas como Xuan Thu Nguyen anunciaram que preferiram usar apenas quatro para apresentar quatro "looks".

"Este é um vídeo artístico, que as pessoas poderão ver quantas vezes quiserem. Acho mais interessante do que apresentar uma coleção inteira", disse à AFP a holandesa de origem vietnamita, à frente da grife parisiense Xuan e cujo vídeo de alta costura será transmitido na segunda-feira.

O italiano Maurizio Galante complementa: "O desfile e o vídeo são como teatro e cinema, com linguagens completamente diferentes", observa ele. No primeiro, "as energias circulam, mas perdemos muitos detalhes", no segundo, "a mensagem que queremos transmitir é passada com sucesso".

Mas para Xuan, essa nova normalidade no setor é apenas uma "pausa", antes que as coleções voltem a brilhar nas passarelas. "Eu poderia viver sem os desfiles, mas acho que no final alguns vão acabar sentindo falta", acredita.

A opinião é compartilhada por outras marcas emblemáticas: "Luxo é emoção e nada é tão emocional quanto uma passarela real. A eletricidade desse momento criativo, os prazos, a adrenalina", comentou recentemente o presidente da Dior, Pietro Beccari.

O próximo programa de "prêt-à-porter" em Paris, previsto para o final de setembro, será realizado segundo "as recomendações oficiais" em termos de medidas sanitárias, de acordo com os organizadores.

Com informações da AFP