Topo

"Uai", associação criada por mineiros, ajuda imigrantes brasileiros em Portugal durante a pandemia

11/07/2020 11h20

Os ex-professores universitários Alexandra Gomide e Ruy Generoso trocaram Belo Horizonte pela cidade de Braga, no norte de Portugal, há quatro anos. Há dois, eles criaram a "Uai", uma associação sem fins lucrativos que ajuda brasileiros recém-chegados ao país. 

Fábia Belém, correspondente da RFI em Lisboa

A célebre expressão mineira "Uai" é a sigla da associação, que significa União, Apoio e Integração. De acordo com Ruy Generoso, diretor e co-fundador, criar a Uai foi uma maneira de responder às demandas dos brasileiros que chegam à região norte de Portugal, principalmente à cidade de Braga, onde fica a sede da entidade. Só no ano passado, a associação fez 1.600 atendimentos - pouco mais de 130 por mês.

Cada pessoa que procura a "Uai" recebe orientação adequada e, dependendo de cada caso, é encaminhada "para órgãos competentes, para pessoas habilitadas", explica Generoso. 

A "Uai" conta com 20 voluntários permanentes. A maioria deles é formada por estudantes brasileiros que estão realizando um mestrado ou doutorado na Universidade do Minho. Eles vêm de diversas áreas: educação, psicologia, marketing, direito, administração. Cada um trabalha na sede da "Uai" pelo menos uma vez por semana. 

Aos brasileiros recém-chegados ao norte de Portugal que procuram ajuda, a equipe oferece aconselhamento psicológico, pedagógico, imobiliário, empresarial e jurídico. Também ajudou novos empreendedores a criarem conexões que contribuíram para negócios. 

Com a pandemia de Covid-19, os pedidos de ajuda mudaram. Ruy Generoso lembra que a crise sanitária causou "um impacto inicial muito grande". Segundo ele, muitos indivíduos perderam o emprego, principalmente os que trabalhavam na informalidade. "Essas pessoas passaram a ter dificuldades. Eles começaram a nos procurar, inicialmente, pedindo mantimentos; algumas pedindo remédios", destaca.

Ajuda a brasileiros e portugueses

A "Uai" chegou a cadastrar cerca de 70 famílias vulneráveis, dentre as quais cinquenta brasileiras e vinte portuguesas. Em seguida, a associação realizou uma campanha nas redes sociais na tentativa de mobilizar a sociedade. Resultado: pessoas e grupos organizados logo responderam, e as doações de alimentos, medicamentos e máscaras, não param de chegar.

De acordo com Ruy Generoso, a Uai também oferece suporte psicológico a quem precisa, graças a um convênio firmado "com apoio do município e também com alguns psicólogos". "A gente já fazia [aconselhamento psicológico] na sede, mas era muito mais de acolhimento. Esse, agora, foi de atendimento psicológico para lidar com a pandemia. Muitas pessoas não estavam preparadas para esse isolamento", explica.

Solidariedade aos brasileiros sem família em Portugal

O casal de paulistas Guido Ferezini, de 75 anos, e Mylene Prado, de 70 anos, moram em Braga há quase três anos. São aposentados e têm se dedicado ao artesanato. Ele faz jogos educativos, bonecos e outros brinquedos de madeira. Mylene, além de produzir peças em cerâmica, também confecciona roupas para os bonecos e pinta peças feitas pelo marido. 

Mylene recorda que, antes da pandemia, ela e o marido sempre contaram com a "Uai" quando precisavam de informações sobre documentos, questões jurídicas e empreendedorismo, por exemplo. No entanto, depois da pandemia, o casal passou a ter outro tipo de assistência da associação.

"A preocupação deles era saber como estávamos, fazer as compras para nós. Como estamos aqui sem a família, eles fizeram esse papel de cuidadores da nossa tranquilidade. Então, foi muito importante", salienta a artesã.

Resistir em tempos difíceis

Em Braga, a associação também realizava o Festival de Inverno, o Dia do Brasil e a Festa de São João. Além de promoverem a integração dos imigrantes, os três grandes eventos também ajudavam a pagar o aluguel da sede e as contas de água e luz. No entanto, devido à pandemia de Covid-19, a festa junina foi cancelada, e o mesmo deve acontecer com os dois outros eventos. 

O diretor e co-fundador da "Uai" reconhece os tempos difíceis, mas expressa sua esperança no futuro da associação. "As pessoas estão precisando nesse momento, então, agora é que a gente tem que ter mais força. É difícil para todo mundo e é nessa situação que a gente tem que ter cada vez mais energia. Vamos passar por essa situação porque a alternativa é desistir e entregar os pontos, e isso não está no nosso horizonte", ressalta.