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Jornal francês destaca ação de agentes de saúde nas periferias de São Paulo e critica Bolsonaro

Presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em Brasília - Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro no Palácio da Alvorada, em Brasília Imagem: Adriano Machado

13/07/2020 12h09

O jornal Libération de hoje traz uma reportagem sobre o trabalho de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) em bairros pobres de São Paulo para conter o avanço do novo coronavírus, apesar do discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra as medidas de isolamento e controle da pandemia.

As ACS, brigadas de saúde formadas essencialmente por mulheres, são, segundo Libération, um "robusto pilar do sistema público de saúde, criado no Brasil logo após o fim da ditadura militar".

Uma das agentes entrevistadas pelo jornal, que distribui máscaras e sabonetes para a população no Jardim Mitsutani, na zona sul da capital paulista, diz que tem dificuldades para convencer as pessoas a usarem máscaras.

Segundo ela, a tarefa ficou ainda mais complicada depois que o presidente Jair Bolsonaro determinou que o uso deste tipo de proteção era facultativo em espaços públicos fechados, indo contra a decisão do governo de São Paulo e de outros estados. Segundo Libération, este é um exemplo do trabalho de sabotagem feito pelo presidente contra os esforços de prevenção dos governos em todo o país.

O jornal lembra que o líder de extrema-direita, que acabou pegando a "gripezinha", como ele chamou a Covid-19, não dá sinais de mudar de abordagem em relação à pandemia. O Brasil, "que era exemplar na luta contra outras epidemias como o HIV ou o vírus zika, não consegue controlar a propagação do novo coronavírus, e se transformou no segundo foco mundial após os Estados Unidos, com 1 milhão e 800 mil contaminações confirmadas e 70 mil mortes."

Profundas diferenças sociais

A Covid-19 expôs as profundas diferenças sociais do Brasil, diz Libération. Mariângela Rosa, que é coordenadora de uma Unidade de Saúde de Base, diz ao jornal que a quarentena nas periferias só foi respeitada no começo de sua aplicação, em março. "Muitos moradores estão em situação de subemprego ou no setor informal", como vendedores ambulantes e empregadas domésticas. "Se eles não saem para trabalhar não têm o que comer", explica a enfermeira.

Em São Paulo, a taxa de contaminação em bairros pobres é quase três vezes superior que em bairros de classe média.

Segundo Libération, o auxílio emergencial dado pelo governo a 65 milhões de trabalhadores do setor informal permite ao presidente manter sua popularidade entre as pessoas mais pobres (ao redor de 30%), já que ele perdeu terreno entre as camadas instruídas da população, devido a sua gestão desastrosa da crise sanitária.

Mas para Sheila Ferreira Seles, da organização Turma da Touca, que distribui alimentos para ajudar famílias que perderam sua renda por causa da pandemia, a "ajuda do governo não é suficiente". A falta de esperança na classe política que levou Bolsonaro ao poder, agora está se voltando contra ele. Ainda que ele queira alcançar os trabalhadores informais com seu discurso, os erros do presidente no tratamento da crise sanitária acabaram marcando sua "inépcia presidencial", diz o jornal.