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Quarentena na Catalunha: habitantes não sabem se seguem ordens de governo regional ou justiça

14/07/2020 07h00

O anúncio de medidas mais rigorosas de quarentena em uma pequena área da Catalunha para conter a expansão do coronavírus provocou nesta segunda-feira (13) um enfrentamento entre o governo regional, presidido pelo independentista Quim Torra, e a Justiça.

Fina Iñiguez de Barcelona para a Rádio França internacional

O governo catalão ordenou neste domingo (12) o confinamento domiciliário na área do Segrià e em oito de seus municípios em Lérida, uma das quatro províncias da região da Catalunha. 

A área, que está a 150 km de Barcelona, e alguns de seus municípios vizinhos, onde residem cerca de 160.000 pessoas, foram isolados há uma semana devido ao surto de coronavírus. Mas a petição de voltar à quarentena foi o motivo do enfrentamento.

Uma juíza do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha bloqueou a instrução do presidente catalão por considerá-la "contrária à lei" porque o governo regional excedeu suas funções, limitando a liberdade de circulação dos cidadãos, medida que seria de responsabilidade exclusiva do Estado espanhol. De acordo com a juíza, para limitar o movimento dos habitantes da região, o governo catalão deve pedir ao governo central o decreto de um novo estado de alarme.

O governo espanhol, porém, não comprou a briga e descartou decretar um novo estado de alarme neste momento, afirmando que as regiões autônomas são competentes em matéria de saúde para tomar as decisões que considerarem necessárias para enfrentar as novas ondas de contágio.

O estado de alarme previsto na Constituição espanhola foi uma medida excepcional adotada pelo governo de Pedro Sánchez em meados de março que permitiu impor um confinamento muito estrito da população até o 21 de junho passado.

Por enquanto o presidente separatista catalão Quim Torra rejeitou a decisão do Tribunal e aprovou nesta segunda-feira à noite um decreto-lei que lhe permita adotar medidas urgentes para enfrentar o risco de surtos da covid-19.

O decreto autoriza a "autoridade sanitária" da Catalunha a tomar medidas que limitem as atividades, o movimento de pessoas e a prestação de serviços em caso de pandemia, em princípio num máximo de 15 dias.

O Ministério Público, por sua vez, alertou Quim Torra, antes da aprovação do decreto, sobre sua possível inconstitucionalidade.

Confusão entre a população

A RFI conversou com Pedro Calvo, um aposentado e morador de Lérida, e, na sua opinião, "os vizinhos da região estão desconcertados e não sabem se obedecem ao governo ou à justiça porque os políticos não dão instruções claras sobre como se comportar".

Confusos e sem saber se estavam cometendo alguma infração, muitos comerciantes decidiram abrir suas lojas e bares, enquanto os moradores, muitos deles irritados, saíram às ruas como de costume, usando máscaras, mas sem saber se seriam multados ou repreendidos. Os que puderam, garante Pedro Calvo, fugiram do confinamento ordenado pelo governo catalão no domingo à tarde, escapando para as casas de praia.

Desde o início da pandemia, a área de Lleida registrou 3.180 casos de coronavírus e 137 mortes.

Atualmente, há mais de cem focos ativos na Espanha e em pelo menos 10 regiões autônomas é obrigatório o uso de máscaras.  Os últimos dados oficiais do Covid-19 indicam que durante o final de semana houve 2.045 contágios, totalizando cerca de 256 mil em todo o país, e 3 novas mortes, somando 28.406 óbitos.

Vírus atinge zonas pobres e com alta densidade de população

As regiões de La Rioja, Navarra, Aragon, Andaluzia e Astúrias planejam tornar obrigatório o uso obrigatório de máscaras em lugares fechados e ao ar livre, seguindo medidas semelhantes nas regiões da Catalunha, Ilhas Baleares e Extremadura.

Uma das áreas que está preocupando mais no momento é a do município de Hospitalet de Llobregat, bem próximo à Barcelona. Já foram registrados mais de 300 casos de infecção, principalmente nas zonas economicamente desfavorecidas e com alta densidade de população.

A prefeita da cidade de Hospitalet, Nuria Marín, afirmou que, diferentemente do início da pandemia, a população mais afetada agora tem entre 20 e 50 anos e, por enquanto, são poucas as pessoas que testaram positivo e precisaram atenção hospitalar.

Quanto à origem das infecções, parece que são variadas e não há um foco principal. De forma geral, as fontes de infecção são familiares ou no âmbito do trabalho e uma teria sua origem num passageiro de um voo internacional que transmitiu o vírus a pelos menos 11 pessoas.