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Conspiracionistas antimáscaras têm interesses que devem ser denunciados pela mídia, diz Conspiracy Watch

04/08/2020 10h18

A polarização entre os defensores do uso de máscaras para se proteger do coronavírus e os antimáscaras, que recorrem aos argumentos mais surpreendentes para dispensar a proteção, é manchete de capa nesta terça-feira (4) do jornal Libération. O fenômeno se acirra em vários países no mundo e tem provocado um debate acalorado na França, desde que o governo deu liberdade aos prefeitos para decretar o uso da máscara obrigatório ao ar livre.

Libération descreve algumas ideias malucas evocadas pelos antimáscaras na internet. O equipamento de proteção recomendado pelas autoridades teria "chips eletrônicos escondidos no tecido para espionar a população". O rastreamento de pessoas com máscaras seria feito por meio da 5G, a nova rede ultrarrápida para celulares e transmissão de dados, que torna o indivíduo "vulnerável à Covid-19".

Existem também aqueles que evocam o princípio da liberdade de respirar, e os que dizem que o porte da máscara é "uma invenção dos governos para enriquecer os fabricantes". O uso da máscara deixou de ser uma escolha racional e passou para o campo ideológico.

O jornal francês entrevista Rudy Reichstadt, fundador do site francês Conspiracy Watch, para saber de que maneira esse movimento tem se propagado. Ele explica que os conspiracionistas antimáscaras surgiram nas frações mais radicais da população americana, que se autoproclamam nem à esquerda nem à direita, mas à margem. Eles fazem parte, segundo o especialista, de um movimento maior de conspiração, daqueles que se consideram dissidentes de um sistema que deseja oprimi-los.

"As plataformas onde proliferam essas mensagens são bem identificadas: Alterinfo.net ou Wikistrike, que fazem da conspiração um negócio há muito tempo", destaca o francês. São as mesmas pessoas contrárias ao isolamento. Apesar da visibilidade nas redes sociais, a causa anti-máscara permanece, no entanto, marginal, garante o fundador do Conspiracy Watch. Por outro lado, seus militantes promovem um grande alvoroço para chamar a atenção. "Em última análise, o assunto de usar ou não a máscara torna-se secundário", afirma Reichstadt.

Para o fundador do Conspiracy Watch, o objetivo dos conspiracionistas é criar uma atmosfera de histeria em torno do debate, atiçar medos e agravar a crise de confiança em símbolos que representam a autoridade, como o Estado, a ciência e a mídia. "A imprensa deve integrar essa ameaça à democracia em seu trabalho, buscando explicar o interesse que essas pessoas têm em divulgar notícias falsas, contar a história desses movimentos e dos protagonistas que os transmitem", defende Rudy Reichstadt.

Violência

O problema é que a polarização tem extrapolado o bate-boca nas redes sociais e passado para a vida real, como tem ocorrido em alguns episódios de violência inadimissíveis na França. Um motorista de ônibus morreu espancado em julho, na região sudoeste do país, depois de cobrar o uso da máscara por um grupo de jovens que entrou no ônibus sem o equipamento obrigatório nos transportes.

No último domingo, um pai de família de 44 anos foi cruelmente agredido diante de seus filhos de 5 e 7 anos, depois de pedir a um homem, que estava na mesma lavanderia, para colocar a máscara, obrigatória em locais fechados. O incidente aconteceu em um município da periferia norte de Paris.

O que causa espanto é a violência das imagens, filmadas pela câmera de segurança da lavanderia. O homem foi atacado por quatro indivíduos antimáscaras, enfurecidos, que utilizaram tacos de beisebol para bater na vítima. O chefe de família escapou do pior, mas tem cortes no rosto, um traumatismo craniano e lesões na coluna. As crianças, que assistiram a cena sem poder fazer nada para ajudar o pai, estão traumatizadas. Tiveram de esperar o resgate chegar vendo o pai caído no chão todo ensanguentado.

Como é possível explicar tanta violência por causa de uma máscara?