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Em Beirute, Macron diz que chegou a hora do Líbano "mudar de sistema"

06/08/2020 10h23

O presidente francês, Emmanuel Macron, chegou no final da manhã desta quinta-feira (6) a Beirute. O porto e parte da cidade de cerca de 250 mil habitantes foram devastados por uma explosão na terça-feira (4), que deixou 145 mortos e cerca de 5 mil feridos na capital libanesa.

Em sua chegada a Beirute, Macron pediu ao governo libanês "reformas indispensáveis." De acordo com as autoridades libanesas, um incêndio em um depósito de nitrato de amônio, no porto da capital, desencadeou a catástrofe. "O Líbano não está sozinho", tuitou o chefe de Estado francês, ao desembarcar no aeroporto, onde foi recebido pelo presidente libanês, Michel Aoun. Em seguida, Macron foi diretamente ao porto praticamente destruído pela dupla explosão.

Em uma coletiva de imprensa, Macron declarou que, se as reformas defendidas há meses pela França não forem realizadas, "a situação no país continuará piorando". "Chegou a hora do Líbano mudar de sistema", afirmou. Ele disse que a França deseja organizar a cooperação europeia e internacional para ajudar os libaneses a superar o drama e espera propor "um novo pacto político" aos dirigentes do país, palco de diversos protestos anticorrupção e onde metade da população vive na miséria.

O chefe de Estado francês é o primeiro dirigente estrangeiro a visitar o Líbano depois da catástrofe. Além da área portuária, Macron foi ao bairro de Gemmayze, duramente afetado pelas explosões, onde encontrou um grupo de manifestantes indignados com a elite política e econômica que controla o país e é acusada de corrupção, clientelismo e negligência. Os grupos no poder no Líbano praticamente não mudaram desde o fim da guerra civil (1975-90). "O povo quer a queda do regime", gritavam os habitantes esgotados pela tragédia. Eles pediram a Macron para ajudá-los a fazer a "revolução".

Antes de voltar para a França, no fim do dia, o presidente francês deve conceder uma nova coletiva de imprensa.

Investigação

Além da França, vários outros países já enviaram equipes de resgate e material ao Líbano depois da explosão, que aparentemente foi acidental. Durante a visita de Macron, um militar da Defesa Civil disse que ainda é possível achar sobreviventes, principalmente funcionários do porto libanês.

Após a tragédia, o governador de Beirute, Marwan Abboud, descreveu uma situação "apocalíptica". O estado de emergência foi decretado durante duas semanas. Dezenas de pessoas continuam desaparecidas. O chefe da diplomacia libanesa, Charbel Wehbé, disse nesta quinta-feira que pretende criar uma comissão para investigar a catástrofe, prometendo que a Justiça será feita.

As autoridades, por enquanto, não instauraram nenhum dispositivo para ajudar os desabrigados. Centenas de libaneses se mobilizaram para lançar as operações de retirada dos escombros. O drama acirrou o clima  de protesto e vários libaneses pedem que os responsáveis prestem contas sobre o que aconteceu.

Em uma carta aberta ao presidente Macron, o Bloco Nacional, um grupo que participou de uma revolta popular em outubro, pediu que a ajuda internacional às vítimas seja distribuída pelas organizações da sociedade civil, que demonstraram, diferentemente das instituições estatais, sua transparência e eficácia.