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Exposição em Genebra conta história de judeus que se refugiaram no Brasil durante Segunda Guerra

08/08/2020 09h36

"Legado do Exílio" faz parte das comemorações dos 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial e traz informações sobre a vida de 38 refugiados - em sua maioria judeus perseguidos pelo nazifascismo - que encontraram um porto seguro no Brasil.

Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça

Uma exposição em cartaz em Genebra, na Suíça, mostra como refugiados da Segunda Guerra Mundial contribuíram para o Brasil. A exposição destaca a trajetória desses homens e mulheres que conseguiram refazer suas vidas longe da Europa no país que os acolheu.

A RFI conversou com Susan Kleebank, cônsul-geral do Brasil em Genebra, que falou um pouco sobre o que o visitante pode encontrar na exposição."A mostra traz imagens, textos e vídeos sobre 38 europeus que deixaram um legado importante em várias áreas para o Brasil: música, literatura, teatro, fotografia, ciência, economia. Eles são alemães, austríacos, poloneses, húngaros, tchecos, italianos e até franceses. Jean Manzon, por exemplo, um dos fundadores da 'Paris Match', foi quem levou o fotojornalismo para o Brasil", afirma a cônsul.  

Kleebank diz que "para nós, brasileiros, é um orgulho constatar que, ao final da guerra, muitos permaneceram no Brasil e aqueles que retornaram aos seus países de origem fizeram questão de manter os vínculos com o país que os acolheu."

Retribuição e legado

Curadora da mostra, a jornalista e tradutora Kristina Michahelles destacou por que é importante falar desse assunto nos dias de hoje."Essa mostra é muito importante num mundo em que há milhões de pessoas deslocadas, refugiados, migrantes, emigrados, exilados. O número alto sempre existiu e sempre existirá. A história desses exilados, de 1933 a 1945, nos ensina que, se você acolhe, se você abre os braços e dá condições, as pessoas retribuem e deixam um riquíssimo, um vastíssimo legado."

A curadora fala de alguns nomes que fizeram diferença em diversas áreas do conhecimento."Na fotografia, Kurt Klagsbrunn, da Áustria, chegou muito jovem aqui e teve novos olhares sobre coisas que os brasileiros nem valorizavam tanto. Nas artes plásticas, são inúmeros os exemplos que vão de Fayga Ostrower, Ernesto de Fiori, um monte de gente que veio aqui e marcou o seu lugar nas artes plásticas, na arquitetura. Na ciência, tem vários exemplos muito importantes, entre eles, os fundadores da USP. No campo da arquitetura, nós temos um exemplo, Alexander Altberg, que deixou algumas edificações no estilo Bauhaus no Rio de Janeiro", enumera.

Ela conta também que há histórias comoventes, como a de Hans Stern, "que chegou com 16 marcos no bolso e um acordeon e fez um império de jóias. Fayga Ostrower, que ganhou o grande prêmio na Bienal em Veneza e é uma das mais conceituadas artistas plásticas."

Há ainda outros nomes retratados na exposição, como o do escritor Stefan Zweig, cuja trajetória é mostrada através de textos e imagens. Na visão da curadora, a grande mensagem que fica é que "se você der condições para pessoas que perderam tudo no país de origem, essas pessoas vão retribuir e ter uma gratidão". "Esse traço da gratidão perpassa todas as histórias", reitera.

A mostra, que tem a colaboração do Consulado do Brasil em Genebra e da Casa Stephan Zweig, em Petrópolis (RJ), também pode ser visitada online, na página do Facebook do Consulado. Mediante agendamento, é possível conferir a mostra na Maison Juive Dumas, da Comunidade Israelita de Genebra (21, Avenue Dumas, Genebra +41 22 317 89 30 / Cultur@comisra.ch) até 30 de setembro.