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Escolha de senadora negra Kamala Harris na chapa de Biden reforça chances de derrota de Trump em novembro

12/08/2020 06h11

A imprensa francesa desta quarta-feira (12) vê como positiva a escolha de Kamala Harris para vice na chapa democrata liderada por Joe Biden à presidência dos Estados Unidos. "Senadora negra e 'jovem', ela é a companheira de chapa perfeita para Biden", avalia o jornal progressista Libération.

Após o anúncio de Biden, nesta terça-feira (11), Donald Trump afirmou, em coletiva de imprensa na Casa Branca, que Kamala Harris é a pessoa "mais maldosa, a mais horrível e a mais desprezível" de todo o Senado americano. A atuação marcante da democrata na Comissão de Inteligência que investigou a ingerência russa na campanha do republicano mostrou a tenacidade e o talento da senadora para dirigir interrogatórios e enfrentar adversários em debates.    

A decisão do Partido Democrata é histórica em vários aspectos. A senadora da Califórnia de 55 anos, é apenas a terceira mulher a disputar a vice-presidência americana, depois de Geraldine Ferraro, vice de Walter Mondale, em 1984, contra Ronald Reagan, e a republicana Sarah Palin, vice de John McCain, que enfrentou Barack Obama, em 2008. 

A principal novidade, no entanto, é que Kamala Harris é a primeira candidata a vice negra, um sinal de que o futuro da política americana não é o "status quo", como assinalou a diretora do Center for American Women and Politics da Universidade Rutgers (New Jersey), Debbie Walsh. 

Depois do movimento de protesto contra o racismo e a violência policial desencadeado pelo assassinato de George Floyd, houve um apelo forte para que Biden escolhesse uma companheira negra de chapa, ressalta o Libération. A nomeação corresponde às expectativas de mulheres e negros, que compõem uma importante fatia do eleitorado democrata. 

Kamala Harris: uma pioneira

O jornal Libération recorda que Kamala Harris é "uma pioneira". Nascida em Oakland, filha de um professor de Economia jamaicano e de uma mãe indiana, pesquisadora especializada em câncer, ela foi eleita duas vezes procuradora-geral da Califórnia, tornando-se a primeira mulher, e negra, a dirigir o Judiciário no estado. Foi também eleita no Senado, no mesmo dia em que Donald Trump conquistou a Casa Branca, em novembro de 2016, tornando-se a segunda representante negra na alta câmara do Congresso

O diário Le Figaro lembra que Harris é também a primeira descendente de imigrantes de origem não-europeia, o que parece ter dado a ela vantagem sobre as demais candidatas. O anúncio ocorre uma semana antes da convenção democrata, que será virtual neste ano devido à pandemia de Covid-19. 

Segundo o Le Figaro, em um partido democrata cuja ala radical é obcecada por questões de identidade, e em particular raciais, a escolha da senadora da Califórnia parece ser uma das mais prudentes para Biden. Ele espera atenuar a frustração da ala esquerda do partido, que se recusa a votar em um homem branco de 77 anos.

"Ela tem sérias chances de ser eleita", escreve o jornal Le Monde. A demora na escolha foi justificada. No processo interno no Partido Democrata, 11 mulheres passaram pelo crivo de uma comissão, e o que se descobriu é que a legenda tem muitas representantes de grande talento capazes de dirigir os Estados Unidos, observa o Le Monde.