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Coronavírus pode ser transmitido através de alimentos? Infectologista responde

14/08/2020 15h56

A Organização Mundial da Saúde (OMS) indicou na quinta-feira (13) que acredita que o coronavírus não possa ser transmitido através de alimentos. O anúncio foi feito depois que a China afirmou ter detectado a Covid-19 em frango congelado que importa do Brasil. Em entrevista à RFI, o infectologista Renato Kfouri, da Associação Paulista de Medicina e da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), deu seu parecer sobre essa questão.

O diretor de situações de emergência da OMS, Michael Ryan, garantiu que até o momento não há nenhum dado que prove que alimentos possam contribuir para a transmissão do vírus. "As pessoas não deveriam ter medo da comida, nem das embalagens ou da cadeia alimentar", garantiu.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Brasil reforçou a constatação da OMS. "O ministério reitera a inocuidade dos produtos produzidos nos estabelecimentos sob SIF, visto que obedecem (sic) protocolos rígidos para garantir a saúde pública", diz o comunicado.

Os anúncios da OMS e do Mapa suscitaram diversas dúvidas. Na página da RFI no Facebook, internautas questionaram se a ingestão da carne crua contaminada, por exemplo, poderia representar algum tipo de risco para os consumidores. No entanto, o infectologista Renato Kfouri descarta essa possibilidade.

"Não há nenhuma descrição de transmissão por via digestiva do coronavírus, isso não foi documentado até hoje. Ou seja, não há infecção por alimentos, qualquer que seja ele. Até porque esses vírus respiratórios são muito sensíveis às enzimas do nosso tubo digestivo. Chegando no estômago, eles são digeridos pelo suco gástrico", afirma.

O especialista lembra que a contaminação pelo coronavírus acontece majoritariamente por vias respiratórias. "Essa é a forma clássica de transmissão deste tipo de vírus, por gotículas de quem fala, tosse, espirra, que elimina partículas contendo o vírus ou por superfícies contaminadas por essas secreções expelidas por portadores de vírus, com ou sem sintomas. É pouco possível imaginar outra via de transmissão", salienta.

Contaminação de superfícies

A OMS também advertiu na quinta-feira que o vírus pode sobreviver durante algum tempo em determinadas superfícies. Algumas pesquisas vêm sendo publicadas sobre essa questão. Em março, a revista científica New England Journal of Medicine, apontou que o vírus responsável pela Covid-19 pode resistir até 72 horas no aço inoxidável e no plástico e 24 horas em papelão.

No entanto, apesar de reconhecer que contaminações podem acontecer desta forma, Renato Kfouri acredita que são mínimas as chances de se infectar após o contato com superfícies contaminadas. "Não é assim que se transmite doenças respiratórias, não é assim que o vírus se espalha. Essa via de transmissão não tem significância nenhuma na contenção de uma pandemia", enfatiza.

Sobre a necessidade de limpeza de produtos e embalagens de alimentos comprados em supermercados ou de roupas e sapatos usados no exterior, o infectologista é cético. "Nós tocamos em superfícies potencialmente contaminadas o tempo todo. Então, não adianta lavar objetos, o importante é lavar as mãos e evitar de levá-las ao rosto para não se infectar", preconiza.

Viabilidade de infecção

Renato Kfouri também alerta que a detecção de fragmentos de vírus em superfícies não significa a viabilidade de infecção. Ele lembra que partículas do Sars-Cov-2 podem ser encontradas em pêlo de animais, em produtos de supermercados, em mercadorias transportadas, o que não significa necessariamente que tenha capacidade de contaminação.

Segundo o infectologista, a metodologia de biologia molecular conhecida por PCR é extremamente sensível, podendo detectar pedaços do vírus que não são necessariamente ativos. "Foi isso o que provavelmente aconteceu com o frango na China. No entanto, para saber se essa partícula é infectante ou não, seria preciso isolar esse fragmento de vírus e colocá-lo em uma cultura de células para saber se ele está vivo", explica.

Por isso, o especialista sublinha: "a via de transmissão do coronavírus é respiratória: 99,99% dos casos são transmitidos desta forma. Um outro tipo de contágio eventual pode até acontecer, mas não é a forma normal. Já a infecção oral não existe".