Covid-19: alemães voltam a protestar contra "ditadura do coronavírus"
Centenas de pessoas voltaram a protestar em Berlim neste domingo (30) contra as restrições para contenção da pandemia de coronavírus. As concentrações foram menores que no dia anterior, reunindo cerca de 2 mil manifestantes. No sábado (29), uma grande passeata na capital alemã reuniu quase 40 mil militantes, que protestaram contra o que dizem ser uma "ditadura do coronavírus".
Do correspondente da RFI em Berlim
Esse foi o segundo grande protesto em Berlim de negacionistas da pandemia. O movimento parece crescer. Enquanto a primeira grande manifestação em Berlim, em 1° de agosto, atraiu cerca de 20 mil pessoas, a de sábado contou com quase o dobro de participantes.
Entretanto, não é possível se dizer que as passeatas são um sinal de que as restrições da pandemia geram um racha na sociedade alemã. As restrições para conter o coronavírus continuam tendo o apoio de ampla maioria dos alemães.
Uma pesquisa divulgada pela televisão estatal ZDF no final da semana passada aponta que 77% dos alemães desejam que haja até mesmo um maior controle das medidas restritivas. Enquanto 60% dizem que as atuais regras são "corretas", 28% dizem que elas deveriam ser mais rígidas. Somente 10% dos entrevistados acham as restrições exageradas. Quer dizer: cerca de 90% dos alemães são a favor das medidas para conter a pandemia.
Extremistas tentam invadir parlamento
O protesto do sábado terminou com cenas que chocaram a opinião pública na Alemanha: um grupo de extremistas de direita tentou invadir o prédio do parlamento, num episódio que revoltou a comunidade política alemã. Muitos já pedem reforço na segurança do prédio do parlamento.
Mas o grupo que provocou o incidente, composto sobretudo por neonazistas, embora seja a parcela talvez mais barulhenta e violenta desse movimento alemão de negacionismo da Covid-19, não representa sua maioria. Segundo analistas, esses extremistas de direita sequer participam da liderança do movimento.
Entretanto, críticos dizem que ao desfilar na companhia esses grupos extremistas de direita, o movimento negacionista cai em descrédito. O argumento é: quem tolera a companhia de neonazistas, de grupos de postura contrária aos princípios democráticos, não tem moral para protestar contra o que chamam "ditadura do coronavírus".
Desde neonazistas a budistas
O movimento tem um leque bastante amplo e curioso de grupos. Ele engloba desde neonazistas, passando por adeptos de teorias da conspiração, ativistas antivacinação, esotéricos e até budistas ou evangélicos fundamentalistas. E a plataforma principal que utilizam são as redes sociais.
Alguns deles acham as restrições da pandemia são um exagero, outros sequer acreditam que a pandemia exista. Uns ainda desconfiam de que o governo alemão esteja seguindo ordens da China ou que esteja envolvido num complô junto com o cofundador da Microsoft Bill Gates, visando implantar microchips nas pessoas através de uma vacinação obrigatória contra a Covid-19. As teorias defendidas pelo movimento são as mais distintas e até estapafúrdias.
O governo berlinense proibiu o protesto. O argumento das autoridades é que os ativistas não respeitaram o distanciamento nem usaram máscara na primeira grande passeata, no começo do mês o que configura um perigo para a saúde pública.
Mas a Justiça derrubou a proibição, dizendo que numa democracia todos têm o direito à manifestação e que o movimento tem direito a uma segunda chance. Durante a passeata, a polícia atuou para dispersar a aglomeração, depois de pedir em vão para que as pessoas respeitassem as regras de distanciamento e uso de máscara.
O chamado "movimento anticorona" parece ter desperdiçado a segunda chance dada pela Justiça. Na madrugada desta segunda-feira (31), o Supremo Tribunal alemão confirmou a proibição de um acampamento dos manifestantes no centro de Berlim por desrespeito às regras da pandemia. Eles queriam ficar acampados na capital alemã até o dia 17 de setembro.
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