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Coletivo de ONGs alertam grupo Casino sobre produtos ligados ao desmatamento na Amazônia e Cerrado

21/09/2020 08h24

Um coletivo de ONGs ambientalistas chama a atenção do grupo francês Casino sobre sua responsabilidade na cadeia de produtos vinculados com os problemas de desmatamento na Amazônia e no Cerrado. Em uma carta de advertência divulgada nesta segunda-feira (21), associações francesas, americanas, brasileiras e colombianas pedem para o gigante francês da distribuição respeitar suas obrigações legais.

As ONGs se apoiam em um relatório publicado em junho pela associação francesa Envol Vert, que indicou que 52 produtos vendidos pelo grupo Casino na América do Sul eram provenientes de fazendas que exploram e promovem queimadas ilegais na Amazônia e no Cerrado.

Na carta aberta, os ambientalistas exigem que o grupo francês rastreie toda a sua cadeia de produtos e coloque em prática um sistema de alerta, especialmente para a proteção das florestas e dos povos indígenas.

"Essas associações nos encarregaram de exigir o respeito às obrigações legais impostas à empresa Casino Guichard-Perrachon, em relação ao dever de vigilância e riscos relacionados ao desmatamento na América do Sul", anunciaram os advogados das ONGs em um e-mail destinado ao CEO do grupo Casino, Jean-Charles Naouri.  

O texto vincula quatro estabelecimentos agrícolas envolvidos no desmatamento ilegal no Brasil - na Amazônia e no Cerrado - e 52 produtos "vendidos em unidades do grupo".

O alerta é assinado por ONGs como Notre Affaire à Tous, Sherpa, Mighty Earth e Envol Vert, esta última uma organização franco-colombiana responsável pela publicação do relatório que serviu de base para o texto. 

Violação dos direitos dos povos amazônicos

Na carta de advertência, os advogados destacam que "a investigação realizada pela Envol Vert permitiu demonstrar que esses fornecedores do grupo Casino [...] eram frequentemente abastecidos por estabelecimentos agrícolas envolvidos em atividades de desmatamento e apropriação de terras indígenas".

As ONGs exigem que o grupo estabeleça um mapa de riscos, a rastreabilidade em toda a cadeia de abastecimento, assim como a implementação de um sistema de alerta, principalmente nos casos de violação dos direitos dos povos amazônicos.

"Quando o Casino diz que verificou que seus três principais fornecedores são abastecidos diretamente em estabelecimentos agropecuários que não realizam o desmatamento, o objetivo deste relatório é afirmar que isso não é suficiente", declarou o advogado François de Cambiarie.

Caso a empresa não cumpra a exigência em um prazo de três meses, as organizações pretendem levar o caso à justiça e "solicitar a indenização dos prejuízos resultantes".

Nos primeiros oito meses do ano, os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) identificaram 6.086 km² de terras desmatadas na maior floresta tropical do mundo.

O desmatamento atingiu um nível excepcional em 2019 (9.178 km2) no Brasil, primeiro ano do mandato do presidente Jair Bolsonaro.