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Macron rejeita na ONU dominação do mundo pelo duelo EUA-China

22/09/2020 17h25

Como outros chefes de Estado, o presidente francês Emmanuel Macron fez nesta terça-feira (22) seu discurso, em vídeo, na 75ª sessão Assembleia Geral das Nações Unidas. Ele disse que o mundo atual não pode ser resumido à rivalidade entre a China e os Estados Unidos e pediu que a comunidade internacional construa novas alianças. Macron também falou do conflito entre Washington e Teerã e afirmou que a França e seus aliados europeus não "vão ceder" à pressão americana e continuarão sendo contra o restabelecimento de sanções visando o Irã.

Macron falou depois do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que fez o discurso de abertura dessa excepcional Assembleia da ONU, e depois de Donald Trump. O presidente americano, que também não foi a Nova York, aproveitou a tribuna virtual para mais uma vez atacar com veemência a China, ilustrando o risco de uma "nova Guerra Fria", entre as duas principais potências mundiais. O chinês Xi Jinping também falou hoje e, sem citar os Estados Unidos, alertou contra a "armadilha do choque de civilizações".

Essa rivalidade não agrada o presidente francês. Macron declarou na ONU que o mundo "não está condenado a esse 'pas de deux' que nos reduz ao papel de espectadores impotentes". Macron reiterou que, independentemente do peso dessas potências e das relações históricas que unem a França a esses dois países, em particular aos EUA, "o mundo atual não pode se resumir a esse choque".

"Diante deles, temos margem de manobra e devemos utilizá-las para definir nossas prioridades e construir novas alianças", defendeu. Ele pediu em particular que a "Europa não se esquive e assuma toda a sua responsabilidade" nesse debate. A União Europeia que muitos previam a divisão e a impotência, deu nessa crise sanitária um passo histórico de união, soberania, solidariedade e escolha para o futuro". Para exemplificar esse avanço, Macron citou as decisões de transformar a eventual vacina contra a Covid-19 em um bem universal ou de reduzir a dívida dos países pobres, principalmente africanos.

Sanções contra o Irã

Sobre o Irã e a decisão unilateral dos Estados Unidos de voltar a impor sanções contra o país, o presidente francês garantiu que a França e seus aliados europeus, principalmente a Alemanha e o Reino Unido, não vão recuar.

Macron indicou que os países europeus, signatários do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano, vão "manter a exigência de aplicação plena e total do Acordo de Viena de 2015". "Não cederemos sobre a ativação de um mecanismo que Estados Unidos" não está "em condições de ativar" por ter se retirado do acordo, acrescentou. Ele disse, no entanto, que "não aceitará eventuais violações do tratado cometidas pelo Irã".

Os Estados Unidos declararam unilateralmente no último sábado (19) a volta das sanções internacionais da Onu contra o Irã. As punições tinham sido suspensas após a conclusão do acordo de 2015, quando o Irã se comprometeu a não desenvolver a bomba atômica.

Donald Trump decidiu em 2018 se retirar do tratado e Macron denunciou nesta terça-feira esta "estratégia de pressão" dos Estados Unidos. Segundo ele, a atitude americana "não permitiu até agora acabar com as atividades desestabilizadoras de Teerã, nem deu garantias que a República Islâmica não desenvolva armas nucleares".