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Milhares saem às ruas de Louisville após justiça não considerar culpados policiais que mataram Breonna Taylor

24/09/2020 07h54

Novas manifestações antirracistas invadiram as ruas de Louisville, no estado do Kentucky, na noite de quarta-feira (23) depois que a justiça anunciou seu veredito e não considerou culpados os policiais envolvidos na morte da enfermeira Breonna Taylor. Ela foi abatida a tiros por engano, dentro de seu próprio apartamento, em março.

Com informações do correspondente da RFI Eric de Salve e de agências

Breonna Taylor, mulher negra de 26 anos, foi alvo de tiros de três policiais em sua própria casa, quando assistia televisão ao lado do namorado, Kenneth Walker. O caso mobilizou a opinião pública e, ao lado de George Floyd, a jovem se tornou um dos símbolos do movimento contra o racismo

Na quarta-feira, a justiça do Kentucky anunciou um veredito que chocou os militantes antirracismo: os três policiais que mataram Breonna não foram considerados culpados e os tiros que Jonathan Mattingly e Myles Cosgrove dispararam contra a jovem foram vistos como legítima defesa. Apenas um deles, Brett Hankison, foi apontado por colocar a vida dos vizinhos em perigo ao afetuar 10 disparos, mas não a vida da enfermeira. 

Após o anúncio do veredito, milhares de manifestantes saíram às ruas em Louisville para denunciar os abusos policiais contra a minoria negra. Um dispositivo policial foi mobilizado na localidade de 600 mil habitantes e várias pessoas foram presas.

Lojas do centro da cidade protegeram suas fachadas devido ao temor de uma onda de violência gerada pela decisão judicial. O município decretou estado de emergência e convocou um toque de recolher a partir das 21h locais. Dois policiais foram feridos a tiros.

Como Breonna Taylor foi morta 

Breonna Taylor foi abatida a tiros em 13 de março em seu próprio apartamento, onde três policiais entraram com um mandado especial, vestidos à paisana. Assustado com a operação, o namorado da jovem, Kenneth Walker, atirou contra os agentes primeiro. Ele pensou que o apartamento havia sido invadido por ladrões. Os policiais afirmaram ter anunciado sua presença antes de entrar, uma versão confirmada por uma testemunha, de acordo com o promotor estadual do Kentucky Daniel Cameron.

Os policiais, que não estavam com a câmera reguladora ativada, dispararam 32 vezes contra a enfermeira, cinco tiros foram mortais para ela. A investigação não determinou qual dos policiais a matou. "Segundo a lei de Kentucky, o uso da força por Mattingly e Costgrove foi justificado, porque eles se protegeram", assinalou o promotor.

Mattingly e Cosgrove, destituídos em junho da polícia, foram liberados, depois que o tribunal considerou que eles agiram em legítima defesa. Segundo a imprensa local, Hankison apresentou-se em uma prisão da região, mas foi colocado em liberdade pouco depois, após o pagamento de uma fiança de US$ 15 mil, quantia bem menor do que em casos semelhantes. Demitido pela polícia de Louisville em junho, ele pode ser condenado a até 15 anos de prisão.

Os outros dois policiais não correm o risco de serem condenados a nenhuma pena. Uma decisão "escandalosa e insultante", para Ben Crump, advogado da família Taylor. Em comunicado, ele expressou sua indignação: "Isso constitui um novo exemplo de ausência de responsabilidade pelo genocídio dos negros cometido por policiais. É irônico e típico que a única acusação neste caso seja por tiros disparados no apartamento de um vizinho branco".

"Conversa muito difícil" com a família Taylor

O promotor estadual do Kentucky Daniel Cameron justificou o veredito. "Sei que a decisão anunciada hoje não irá contentar a todos", reconheceu. Ele afirmou também ter tido "uma conversa difícil" com a família Taylor. "Entendo perfeitamente o sofrimento causado pela perda trágica da senhora Taylor. Entendo como promotor e como negro."

Cameron também fez um apelo para o manifestantes "lembrarem que marchas pacíficas são seu 'direito como cidadãos americanos", mas que "violência e destruição", não. "Buscar justiça com violência não rende justiça, e sim, vingança", declarou. 

"Irmã, o sistema para o qual você trabalhava tão arduamente te abandonou", reagiu no Instagram Juniyah Palmer, irmã da vítima. "Eu sinto muito", reiterou, publicando uma foto em que aparece ao lado de Breonna.