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Museu francês adia exposição sobre a Mongólia após sofrer pressão da China

13/10/2020 15h34

O Museu de História de Nantes, no oeste da França, anunciou o adiamento de uma exposição dedicada à história de Gengis Khan e o império mongol devido ao endurecimento da posição do governo chinês sobre essa minoria no país.

"Tomamos a decisão de suspender essa produção em nome de valores humanos, científicos e éticos que defendemos", explicou o Museu de História de Nantes em comunicado divulgado na segunda-feira (12). O diretor da instituição, Bertrand Guillet, afirma que o museu sofreu "um censura em relação ao projeto inicial".

A exposição deveria abrir suas portas inicialmente  em 17 de outubro, mas em razão da crise sanitária, foi reprogramada para o primeiro semestre de 2021. Agora, segundo Guillet, não deve ser inaugurada antes de outubro de 2024.

Segundo o comunicado, o museu sofreu "uma imposição por parte das autoridades chinesas para a eliminação de elementos do vocabulário usado", como as palavras Gengis Khan, império e mongol, e recebeu um pedido de controle de todos os textos, cartografias, católogos e comunicação sobre o evento.

O projeto, a exemplo de outras exposições apresentadas em Nantes nos últimos anos, era realizado em parceria com o Museu da Mongólia Interior, em Hohhot, no norte da China. Mas "a nova sinopse proposta, escrita pelo escritório do patrimônio de Pequim, aplicada como uma censura ao projeto inicial, apresenta elementos de revisão tendenciosos visando a fazer desaparecer totalmente a história e a cultura mongol em benefício de uma releitura nacional", precisa o comunicado.

O Museu de História de Nantes afirma que uma nova exposição "apoiada por coleções europeias e americanas" será organizada em breve com base no projeto inicial.

6,5 milhões de mongois na China

A China conta com 1,4 bilhão de habitantes e 56 grupos étnicos. Os hans são majoritários e compõem 92% da população. 

Cerca de 6,5 milhões de mongóis povoam a região da Mongólia Interior, no norte da China, uma vasta região com campos, desertos e florestas. No começo de setembro, grandes manifestações sacudiram o território com o anúncio de Pequim de uma nova política linguística que impõe o mandarim em detrimento do mongol. As autoridades chinesas reprimiram o movimento.

Medidas semelhantes foram implementadas em outras regiões habitadas por grupos étnicos importantes, como no Tibete (tibetanos) e Xinjiang (uigures), onde as autoridades tentam impedir os movimentos identitários. As autoridades de Pequim alegam que um melhor conhecimento do mandarim ajuda os membros de minorias étnicas a terem mais oportunidades de desenvolvimento, emprego e mobilidade profissional na China.