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Israel flexibiliza segundo lockdown, mas teme "terceira onda" da Covid e nova quarentena

19/10/2020 10h46

Israel encerrou um lockdown de um mês para tentar estancar a segunda onda de Covid-19. O fechamento quase total do país começou no dia 18 de setembro, véspera do Ano Novo Judaico, e terminou neste domingo (18).

Daniela Kresch, correspondente da RFI em Israel

Como domingos são dias úteis em Israel, o fim do lockdown foi marcado, principalmente, pela volta das creches e jardins de infância para crianças de até 6 anos de idade. Fora isso, o aeroporto internacional e empresas que não recebem público voltaram a funcionar. Os restaurantes puderam retormar o serviço de entrega a clientes.

Praias e parques também reabriram com o fim da restrição de 1 quilômetro para que as pessoas pudessem se distanciar de suas casas. Locais santos como o Muro das Lamentações, a Igreja do Santo Sepulcro e a Esplanada das Mesquisas, em Jerusalém, também recebem de novo os fiéis.

No entanto, algumas limitações continuam, como a proibição de aglomerações de mais de 20 pessoas ao ar livre e 10 em locais fechados. O uso de máscaras em locais públicos, ao ar livre ou não, segue sendo obrigatório.

Desorganização

Mas o fim do lockdown não está acontecendo de forma organizada. A reabertura das creches e jardins de infância está sendo muito criticada porque o ministério da Educação não determinou a divisão das turmas em grupos de poucos alunos e nem limitou o número de salas de aula ou de locais por onde os professores podem circular. Especialistas acreditam que, dessa forma, certamente haverá muitas infecções nesses locais e que isso será sentido daqui a duas semanas.

Algumas escolas de Ensino Básico e Médio também reabriram, contrariando as diretrizes. Elas ficam principalmente em cidades ou bairros de municípios povoados majoritariamente por religiosos ortodoxos, onde já havia a tendência de não se cumprir medidas como distanciamento social ou uso de máscaras.

Nessas cidades e bairros  foram registradas as maiores taxas de infecção por coronavírus, nas últimas semanas. Mas os líderes religiosos não aceitam manter os alunos em casa e ordenaram a abertura das escolas e internatos rabínicos, sem medidas contra aglomerações ou imposição do uso de máscaras.

Força policial

O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu implorou aos líderes dos judeus ultraortodoxos a obedecerem as regras, mas não adiantou muito. A grande polêmica no país, agora, é se a polícia deve ou não fechar à força essas escolas, mesmo que haja violência, ou se o melhor seria determinar um lockdown regional nessas cidades ou bairros, considerados vermelhos.

Justamente por isso, há um temor de que Israel possa ter que decretar mais um lockdown. Esse de agora foi o segundo desde março. Na época, o país seguiu os passos de países europeus que decidiram fechar tudo para lidar com os altos índices de infecções e mortes pelo novo coronavírus.

País se saiu bem na primeira onda

O primeiro-ministro Netanyahu ordenou um fechamento de mais de um mês, não tão hermético, mas bem severo, e Israel conseguiu passar pela primeira onda relativamente bem, com menos de 300 mortos, se orgulhando de ser uma espécie de modelo para o mundo. O resultado foi quase uma euforia em meados de maio, quando o lockdown foi flexibilizado. E os israelenses saíram para comprar em shopping centers, comer em restaurantes, frequentar piscinas e academias de ginástica, orar em sinagogas e protestar contra o governo.

Em julho, uma segunda onda de Covid-19 já era óbvia. Mas, mesmo assim, as escolas reabriram em 1° de setembro e muitos israelenses decidiram que era seguro celebrar casamentos com centenas de convidados e rezas coletivas. O resultado foi uma segunda onda muito mais severa do que a primeira, com mais de 9 mil infectados por dia e mais de 2,2 mil mortos.

Com o segundo lockdown de um mês, esses números caíram para menos de mil infecções diárias e cerca de dez mortes por dia. Muitos acreditam que a saída do primeiro lockdown foi rápida e caótica demais, o que levou ao segundo, há um mês. E temem que isso possa acontecer de novo, caso haja novamente uma euforia com o relaxamento das medidas.

Reflexos na economia

Israel passa pelos mesmos fenômenos que tantos outros países: preocupação com a economia e o alto desemprego, além de pressões de nichos da população para reabertura de setores como entretenimento e turismo.

O balneário de Eilat, no Sul de Israel, por exemplo, enfrenta um desemprego de 40%. Antes do coronavírus, o nível era 4%.

Fora isso, há um cansaço da população após oito meses de restrições e de mudança total de hábitos. Sem contar um certo aumento dos negacionistas, entre eles alguns judeus ultraortodoxos e parte da minoria árabe-israelense.

Por fim, há a questão política. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu enfrenta três processos por corrupção. Há cada vez mais protestos populares - alguns com aglomerações - pedindo sua renúncia e os manifestantes não aceitam suspendê-los, acusando o premiê de usar o coronavírus como desculpa para restringir a democracia.

Para muitos, isso tudo leva a crer que Israel, como outros países, irá viver uma rotina de aberturas e fechamentos, pelo menos até que uma vacina esteja à disposição.