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Assassinato de professor por extremista retoma discussão sobre laicidade nas escolas da França

21/10/2020 12h10

Os jornais franceses desta quarta-feira (21) abordam as dificuldades enfrentadas por professores em sala de aula, um assunto que voltou a debate após o assassinato de Samuel Paty por um extremista islâmico, na sexta-feira (16). O professor de história decapitado será homenageado e receberá honras acadêmicas póstumas numa cerimônia na universidade Sorbonne, na qual o presidente Emmanuel Macron deve assinalar as principais decisões do governo na luta contra o terrorismo.

O jornal Le Parisien traz uma reportagem mostrando que tensões e incidentes sobre a laicidade nos estabelecimentos de ensino da França são mais comuns do que fazem crer as estatísticas oficiais. Segundo dados do órgão nacional de educação, ocorreram 935 casos de "obstáculo aos valores da República" nesses locais, entre setembro de 2019 e março de 2020. Porém, para muitos professores que participaram da manifestação do último domingo, em Paris, a sensação é de estarem sozinhos frente às agressões religiosas em sala de aula.

Uma professora conta ter ficado supresa ao receber uma mensagem de um pai de aluno dizendo que ela não deveria obrigar os estudantes a pronunciarem palavras proibidas. No caso, tratava-se da palavra porco, numa aula em que os pequenos aprendiam sobre gêneros no mundo animal.

Os professores ouvidos pela reportagem dizem que a situação se agrava há sete anos. Outro assunto que não é bem recebido, segundo os profissionais ouvidos, é a teoria da evolução, já que alguns alunos com educação mais religiosa sequer aceitam discutir sobre as descobertas de Charles Darwin.

Educação sexual é rejeitada

Outro caso citado diz respeito a aulas de educação sexual. Determinados alunos já desafiaram professores dizendo que eles deveriam se envergonhar de tais ensinamentos. Alguns estudantes até mesmo se recusam a colar imagens de aparelhos reprodutivos em seus cadernos, revela o texto.

O diário francês ainda publica uma carta escrita pela primeira-dama da França, ela mesma uma professora, a Samuel Paty. Em isolamento por ter tido contado com uma pessoa doente de Covid-19, Brigitte Macron não estará presente durante a homenagem ao professor assassinado, esta noite. Na carta, redigida após um encontro com a família da vítima, ela diz que "ser professor é desenvolver o espírito crítico dos alunos para que eles sejam livres".  

Reportagem do jornal Le Monde desta quarta-feira também ouviu profissionais que trabalham em escolas na região onde aconteceu o crime, além de representantes do ministério da Educação. O texto afirma que, frente a essa situação, "a resposta deveria ser coletiva".