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Após homenagem nacional a professor decapitado, França espera ações concretas contra terrorismo

22/10/2020 11h17

A França amanheceu emocionada, após a homenagem nacional na noite de quarta-feira (21) na Universidade Sorbonne, em Paris, ao professor Samuel Paty, assassassinato por um islamita radical na semana passada. Os jornais franceses que chegaram às bancas nesta quinta-feira (22) tratam da luta do governo contra o terrorismo e trazem detalhes inéditos sobre a investigações do atentado.

"E agora, o que fazemos?": é essa a manchete de capa do jornal Le Figaro. Exibindo uma foto da homenagem nacional a Samuel Paty, com a bandeira francesa em primeiro plano, o diário afirma que "o país espera ações concretas para barrar a ascensão do islamismo radical". 

Em um editorial indignado, o diário de direita afirma que a França observa há duas décadas o terrorismo se organizar em pleno território nacional sem saber reagir. "Agora é preciso ter coragem para dizer o que vemos, o que vivemos e o que tememos" para que o Estado de direito seja respeitado, publica Le Figaro.

O jornal Libération estampa sua capa com uma foto de página inteira de um soldado segurando um retrato de Samuel Paty, durante a homenagem na Sorbonne, na noite de quarta-feira, e apenas duas palavras na manchete: "Senhor professor". 

O editorial do diário expressa a emoção com o bárbaro assassinato do professor, um crime "insuportavelmente triste", afirma. O jornal de esquerda também critica líderes da extrema direita e da direita, que pedem mais ação e menos lamentações, e afirma que as lágrimas que caem por Samuel Paty são verdadeiras. 

"Elas são parte de uma humanidade que nos distingue dos terroristas e está fora de questão que eles nos roubem isso. Esquecer essas lágrimas, essas flores, essas velas é um erro político e moral", publica Libération

Novos detalhes sobre as investigações

Já o jornal Le Parisien traz detalhes exclusivos sobre as investigações do atentado e sobre o autor do ataque, Abdoullakh Anzorov, de 18 anos. Inicialmente, as autoridades francesas divulgaram que o jovem de origem chechena não estava na lista "ficha S", em que a polícia registra as pessoas envolvidas ou suspeitas de envolvimento com terrorismo. 

No entanto, o diário obteve informações junto à Direção Geral da Segurança Interior da França que apontam para a radicalização do rapaz e de contatos que ele teria com terroristas na Síria. "Anzorov não escondia sua transformação em direção ao islamismo radical há pelo menos seis meses ou um ano", diz a matéria. 

Interrogados pela polícia, os pais do autor do ataque confirmam ter percebido que sua prática religiosa havia se intensificado nos últimos meses. A família também suspeita que o rapaz se preparava para viajar à Síria. 

No celular de Anzorov, os investigadores também encontraram diversos elementos que apontam para sua radicalização, como a foto da bandeira do grupo Estado Islâmico como fundo de tela, além de mensagens pró-Jihad nas redes sociais. 

Le Parisien pergunta se os serviços de inteligência erraram ao não ter detectado o perigo que Anzorov poderia representar. Para o jornal, "sempre há falhas, mas não é possível se enganar de combate, e a luta que precisa ser realizada hoje é contra o islã político que gangrena as instituições".