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Segunda onda de Covid não é "ondinha" e pode ser pior que a primeira, adverte diretor de hospitais de Paris

23/10/2020 08h53

O diretor-geral da AP-HP - a rede de 39 hospitais públicos da região parisiense -, Martin Hirsch, disse nesta sexta-feira (23) que é "possível" que a segunda onda da Covid-19 na França "seja pior do que a primeira". Segundo Hirsch, nos últimos meses, houve uma perpepção de que não haveria um forte retorno da epidemia, ou que haveria uma "ondinha". Mas "a situação é o contrário", declarou o alto funcionário em entrevista à rádio RTL.

A rede AP-HP forma o maior conjunto de hospitais universitários da Europa, responsável pelo atendimento de 8,3 milhões de pacientes. Além da situação na região parisiense, o diretor-geral desses estabelecimentos destacou que "o número de hospitalizações pela Covid-19 aumenta em várias regiões do país, o que torna o cenário assustador". A França já soma um total de 34 mil mortes pela doença e, até quinta-feira (22), havia 2.239 pacientes internados em terapia intensiva, o maior número de casos necessitando de reanimação desde maio.

"Temos atendido um certo número de doentes jovens que apresentam fatores de risco ou casos como um pai que foi contaminado por seu filho pequeno. O pai desse pai, que recebeu poucas visitas e tinha se isolado, tomando cuidado para não se contaminar,  foi contagiado quando recebeu a visita do filho de 50 anos", contou Hisrch, indicando como tem ocorrido a cadeia de transmissão do vírus.

Hirsch afirmou ter cancelado alguns pedidos de férias feitos por médicos e enfermeiros nesta última quinzena de outubro, mas detalhou, ao mesmo tempo, ter preferido que uma parte do pessoal desfrutasse de dias de descanso agora, prevendo um mês de novembro "pavoroso".

O primeiro-ministro francês, Jean Castex, anunciou na quinta-feira que o toque de recolher vigente em nove metrópoles francesas, incluindo Paris, será estendido a partir de sábado a 38 novos departamentos e à Polinésia Francesa. A medida visa conter a circulação "extremamente alta" do vírus, explicou Castex.

No balanço divulgado ontem pelas autoridades, a França registrava um número recorde de 41 mil novos casos da Covid-19 em 24 horas, um nível de contaminações nunca visto antes no país.

Ao citar uma média de 30 mil casos por dia, Hirsch argumentou que "a realidade é muito maior", pois esse número se refere apenas aos casos de pessoas que são testadas ou examinadas, por apresentarem os sintomas da infecção. "São muitos os positivos contaminando as pessoas que estão na rua sem saber, e sem ninguém saber, provavelmente três vezes mais" do que esses 30 mil casos, estimou o diretor-geral da AP-HP. "Esse vírus é terrível. (...) Podemos evitar que ele circule, mas sendo muito mais cuidadosos do que somos atualmente", martelou Hirsch.

Quase um milhão de casos

A França irá ultrapassar nas próximas horas a marca simbólica de mais de 1 milhão de contaminados pelo coronavírus, desde o início da epidemia. O presidente Emmanuel Macron visita nesta sexta-feira o hospital René-Dubos, em Pontoise, 44 km ao norte de Paris, para conversar com os profissionais de saúde sobre essa segunda onda epidêmica, informou o Palácio do Eliseu. O endurecimento das medidas de restrição adotadas pelo governo nas últimas semanas não teve o impacto esperado na contenção dos casos.

Ontem, o primeiro-ministro francês adotou um tom solene ao comentar a crise sanitária. "Digamos a verdade: a situação é grave. Ela é grave na Europa, ela é grave na França. (...) As próximas semanas serão duras", alertou Castex.