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EUA: Desenho institucional favorece 'minoria barulhenta' ligada à direita populista, diz especialista

28/10/2020 17h09

As eleições americanas são o assunto do dia em todo o mundo, às vésperas do pleito, que acontece em 3 de novembro nos Estados Unidos. Para comentar o assunto, a RFI conversou com Lucas de Abreu Maia, pesquisador e doutorando do departamento de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia (UCLA), que estuda o comportamento dos eleitores na terra do Tio Sam.

"No que se refere ao eleitorado americano, existe uma visão de que ele esteja polarizado", afirma Lucas de Abreu Maia. "Mas isso não encontra eco nos dados. Pelo contrário, vejo o eleitorado americano como de centro-esquerda e que tende a se mover em conjunto. Observo em minha pesquisa que quando o país se move para a direita, ele se move nesta direção como um todo", explica o pesquisador.

As minorias dos "estados rurais"

Outra questão importante, na opinião do especialista, é se perguntar o porquê de um país historicamente de centro-esquerda eleger um presidente alinhado com a "direita populista", Donald Trump. "Existe uma desconexão entre a vontade dos eleitores e o desenho institucional americano, que favorece uma minoria barulhenta que assistimos hoje nos Estados Unidos. Todas as instituições americanas, o Colégio Eleitoral, o próprio Senado, são desenhadas para favorecer as minorias dos chamados estados rurais", conta Maia.

 "A questão fundamental é que o voto popular nem sempre predomina nos Estados Unidos", diz o pesquisador. "Se ele predominasse, não teria sido eleito o presidente republicano em 2016, nem em 2000, quando foi eleito o Bush e o Partido Republicano estaria numa situação muito difícil. Desde 1992, os republicanos ganharam uma única presidência no voto popular, em 2004", lembra.

"O sistema bipartidário favorece eleição apertadas, sempre as eleições nos Estados Unidos serão relativamente apertadas. Mas isso não significa que o eleitor esteja polarizado. A polarização reflete visões ideológicas extremadas, com a direita se tornando mais direita e a esquerda, mais esquerda, mas não observamos isso", analisa.

"Agora, o alinhamento partidário é muito forte nos Estados Unidos, e sempre foi. Não é um fenômeno novo. As pessoas têm uma ligação forte com os partidos democrata e republicano. Como a oposição é clara, é muito fácil saber em que time você está jogando", acredita Maia. "As pessoas tendem a não mudar de lado, mas isso não significa que elas estejam radicalizadas em suas opiniões", diz. 

O pesquisador da UCLA acredita que uma parte significativa do Partido Democrata tenha ficado traumatizada com a eleição de Donald Trump. "Estão se organizando [os democratas] para que isso não volte a acontecer esse ano. Esse eleitorado está se organizando para que haja um comparecimento. Aparentemente teremos, a despeito da pandemia, um comparecimento às urnas bastante significativo este ano", avalia.

Para Maia, surpresas serão possíveis neste pleito. "Prováveis não, possíveis sim", afirma. "Se as pesquisas estiverem erradas e se o comparecimento às urnas não for o esperado, é possível que tenhamos surpresas, com todas essas variantes que são difíceis de prever, mas, que ao que tudo indica, darão a vitória a [Joe] Biden, mas não dá para apostar todas as fichas nisso", conclui.