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Brasileira morta em atentado em Nice recebe homenagens de ex-colegas de trabalho

30/10/2020 18h15

Esta semana está sombria tanto para os franceses quanto para os brasileiros que amam a França. A morte da baiana Simone Barreto Silva, 44 anos, no atentado terrorista islâmico ocorrido na quinta-feira (29), na basílica Notre-Dame de Assunção, em Nice, deixou o país abalado.

Nesta sexta-feira (30), os canais de TV franceses dedicam reportagens à chefe de família brasileira. Simone deixa três filhos menores, com idades entre 4 e 14 anos. Ultimamente, ela trabalhava como cuidadora de idosos, mas há dois anos concluiu um curso de chef de cozinha sob aplausos dos colegas.

O chef que formou a brasileira, Éric Brujan, do restaurante do hotel Le Méridien, em Nice, fez questão de homenageá-la, lembrando que Simone era uma mulher "solar, sempre com um sorriso radiante no rosto, cheia de vida". "Ela sempre foi uma estagiária dedicada, cultivava suas raízes culturais e adorava o samba", contou o chef do Méridien.

Uma amiga do curso de cozinha, a francesa Myriam Touil, disse que vai guardar a imagem de uma pessoa "otimista e sorridente, em qualquer circunstância". "Apesar do pouco tempo livre que tinha, por causa do curso de cozinha e dos filhos, ela estava sempre disposta a ajudar os outros", recordou a ex-colega. Myriam ressaltou a importância da fé no cotidiano da baiana e o amor que ela tinha pelos filhos. "O que ela vai deixar aos filhos, à família e para todos nós, moradores de Nice, é seu sorriso, sua alegria." As últimas palavras dela, segundo testemunhas, foram: "Digam aos meus filhos que eu os amo". Simone morava na França há 30 anos.

O autor do ataque, o tunisiano Brahim Issaoui, 21 anos, foi preso em flagrante e continua na UTI, depois de ter sido ferido por policiais. Ele vem de uma família modesta da Tunísia.

A mãe e um irmão de Brahim revelaram hoje que ele abandonou os estudos e, há dois anos, se voltou para a religião. Desde então, passou a viver isolado. Os familiares descobriram que ele chegou à França na noite de quarta-feira (28), na véspera do ataque, quando telefonou à mãe e ao irmão para dar notícias. "Ele disse que tinha ido para a França por ser mais fácil para encontrar trabalho", declarou o irmão. O tunisiano havia entrado na Europa em 20 de setembro, junto com um grupo de 300 migrantes que desembarcaram na ilha de Lampedusa, na Itália.

O autor da carnificina na igreja ainda não pôde ser interrogado, por estar em estado grave, mas tem o perfil típico dos terroristas recrutados nos últimos 20 anos por organizações fundamentalistas como a Al Qaeda e o grupo Estado Islâmico: vem de um meio social desfavorecido, se radicalizou repentinamente e se afastou da família. Em meia hora, ele degolou uma mulher de 60 anos, atacou o sacristão laico da basílica também no pescoço e deu vários golpes na brasileira, que conseguiu fugir da igreja, mas morreu uma hora e meia mais tarde.

Investigações

A polícia francesa deteve um homem de 47 anos que conversou com o tunisiano na véspera do atentado, ou seja, no dia em que ele chegou à França.

Nesta sexta-feira, as autoridades da Tunísia abriram uma investigação para verificar a existência de uma organização denominada Madhi, que teria reivindicado o atentado contra a basílica. Mas é um grupo desconhecido e a reivindicação não foi autenticada.

Na véspera do feriado de Todos os Santos e Finados, este ano mais restrito por causa do lockdown, o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, disse que "novos atentados são prováveis". Darmanin, da ala conservadora do governo, afirmou que o país está em guerra contra uma "ideologia islâmica" e não contra a religião muçulmana. O governo reforçou o patrulhamento nas ruas. Agora são 7 mil militares que irão proteger a entrada de escolas e locais de culto, sejam igrejas, mesquitas ou sinagogas.

Desde 2012, a França registrou 55 ataques terroristas. Eles causaram a morte de mais de 293 pessoas.