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Temendo não ter votos contabilizados, eleitores de Minnesota votam em massa

Nesta reta final da campanha, Trump e Biden estarão hoje em Minnesota, um dos estados com maior taxa de participação em eleições presidenciais nos Estados Unidos - Jim Watson e Brendan Smialowski/AFP
Nesta reta final da campanha, Trump e Biden estarão hoje em Minnesota, um dos estados com maior taxa de participação em eleições presidenciais nos Estados Unidos Imagem: Jim Watson e Brendan Smialowski/AFP

30/10/2020 06h54

Nesta reta final de campanha das eleições presidenciais americanas, Donald Trump e Joe Biden estarão hoje em Minnesota, um dos estados com maior taxa de participação em eleições presidenciais nos Estados Unidos. Os eleitores, que segundo pesquisas dão vantagem ao candidato democrata, estão enfrentando longas filas nos locais de votação e a mobilização pelo voto antecipado não é apenas por causa da pandemia.

O republicano Trump visita Rochester, no interior do país, onde tem mais simpatizantes, e Biden faz comício na capital, Saint-Paul. Minnesota, com 5,6 milhões de habitantes, integra o grupo dos estados do centro-oeste americano e é reconhecido pela alta taxa de participação de eleitores, particularmente em eleições presidenciais.

"Mesmo em eleição presidencial, a votação nos Estados Unidos não é tão maciça. Minnesota é uma exceção e lidera a taxa de participação em eleições presidenciais com uma média de 75% ou mais. Somos muito liberais e o estado tem uma boa organização e facilidade para a inscrição de eleitores", explica Eric Ostermeier, cientista político formado pela Universidade de Minnesota e fundador do blog SmartPolitics, que concentra uma detalhada base de dados das diversas eleições no estado e das eleições presidenciais dos Estados Unidos. "O mesmo acontece com estados vizinhos como Wisconsin e Dakota do Sul. Em parte, portanto, é devido a esse aspecto cultural" acrescenta.

Segundo Ostermeier, a maior participação dos eleitores favorece sobretudo o partido Democrata. Desde 1976, os moradores de Minnesota têm garantido os 10 votos do estado no Colégio Eleitoral, que define o vencedor da eleição, aos candidatos democratas. A expectativa, segundo as últimas projeções, é do cenário se repetir com Joe Biden, que tem registrado até cinco pontos de vantagem sobre o concorrente republicano.

No entanto, a derrota com apenas 1,5% de diferença para a rival Hillary Clinton na eleição passada, o que surpreendeu muitos eleitores na ocasião, fez Trump adotar uma estratégia e investir no estado onde esteve por várias vezes durante a campanha, assim como seus parentes e diversos aliados políticos.

Outro motivo de ter colocado Minnesota no radar dos republicanos foi a vitória durante as eleições para a Câmara dos Representantes, quando o partido tomou duas cadeiras historicamente dos democratas em dois condados do interior. "Há uma clara divisão entre o mundo rural e o urbano em Minnesota. A campanha de Trump vê uma oportunidade de gerar um entusiasmo nessas áreas rurais e veem uma chance de compensar as derrotas nas áreas suburbanas de grandes cidades, além de Minneapolis e Saint-Paul", explica Ostermeier.

Minnesota não integra a lista dos chamados estados pendulares, que oscilam regularmente entre republicanos e democratas, mas Biden não pretende ser surpreendido. Na quinta-feira, dia seguinte ao anúncio de que Trump viria mais uma vez a Minnesota, a campanha do democrata anunciou um comício em formato de drive-in na capital Saint-Paul, que com a vizinha Minneapolis forma as "Twin Cities" (Cidades-gêmeas).

O apoio para esta última passagem não vai faltar. Basta dar uma volta pela capital e sua vizinha gêmea Minneapolis para conferir o amplo apoio e prestígio do candidato democrata. Na frente das casas, cartazes e placas sinalizam a preferência o eleitorado urbano.

Mobilização em massa de eleitores

Se as temperaturas baixas nesta época do ano não surpreendem os moradores, as longas filas nos vários centros de votação espalhados pelas duas cidades ganharam ares de novidade. Minnesota foi o primeiro estado a permitir, 46 dias antes da eleição de 3 de novembro, o voto antecipado, e nas últimas semanas a mobilização tem superado as expectativas mais otimistas.

No centro de Longfellow, no sul de Minneapolis, os eleitores levam em média meia hora para votar. A rapidez vem da larga experiência da participação em massa dos eleitores. Muitos deles tinham opção de votar pelo correio, mas fizeram questão de comparecer pessoalmente, como a enfermeira Julie Toth.

Ao lado do marido e com uma máscara com as cores do arco-íris na qual se lê inúmeras vezes a palavra "vote", ela justifica sua presença pela preocupação com o ambiente eleitoral, tenso com a possibilidade de contestação de votos por correspondência em vários estados e com a repercussão de declarações de Donald Trump, sem comprovação, de que essa eleição poderá ser fraudada.

"Estou aqui para ter certeza que meu voto vai ser confirmado. Há muitas notícias de que, em alguns estados, os votos vão ser contestados, se vai ser uma eleição legal ou não, se os votos serão mesmo contados. Então, para ter 100% de certeza que meu voto vai ser validado, vim pessoalmente", disse. "Há muita tensão em relação a que algumas coisas possam não ser feitas de maneira legal ou possam ser contestadas, ou porque pessoas que deveriam votar não têm oportunidade, ou porque pessoas envolvidas com a eleição estão intimidando os eleitores", acrescenta.

A arquiteta Allison Salzman votou pela primeira vez antecipadamente, antes da data oficial da eleição. Ela diz que tomou precaução por causa da pandemia, mas sobretudo para se certificar de que sua voz será ouvida " Sempre votei no dia da eleição, mas desta vez, não tive a certeza de que algo estava garantido e por isso, quero que minha voz seja ouvida agora", afirmou.

"Somos uma cidade liberal em vários aspectos, mas nossas cidades estão muito divididas também. Se você dirigir 30 minutos daqui, vai encontrar mais cartazes e bandeiras pró-Trump. Acho que estamos doentes com essa divisão e precisamos de alguém que lute para nos ver como uma única sociedade", diz.

Na saída da cabine de votação, a professora de música Colleen Cook também ressaltou os riscos que a fizeram depositar seu voto antes do prazo previsto.

"Há muita disputa nesta eleição e muitos riscos no dia da votação, então decidi tomar mais cuidado para votar o mais cedo que pude. No passado, as pessoas não pensavam muitos nas consequências da votação. Não era na mesma escala. Agora, para muita gente, as consequências estão ficando muito sérias, e estão se dando conta de que seu voto pode fazer muita diferença. Se não agir, algo muito ruim pode mesmo acontecer", comenta.

Angelo Giovanis, empresário, diz que votou antecipado para evitar longas filas previstas no dia 3 de novembro e para se proteger do "ambiente tóxico" da pandemia - e também político.

"Existe muita tensão. Parece que há raiva, muita raiva. Espero que depois desta eleição possamos nos livrar disso. Podemos ver muitas pessoas sendo pressionadas. Espero que depois vá mudar", diz, esperançoso.

A brasileira Marilena Mattos, professora aposentada e que tem cidadania americana, se preparou para votar pelo correio por causa da pandemia, mas decidiu comparecer no local de votação, uma biblioteca perto de sua casa nos arredores de Minneapolis.

"Eu estava com a cédula em casa, porque requisitei para votar pelo correio. Mas com essa confusão do Trump falando que essa eleição ia ter fraude, pensei, 'esse homem vai aprontar'. Então, antes que meu voto não seja contado, resolvi votar adiantado. Depositei, garantido na urna", conclui, sorrindo.