Imprensa estrangeira destaca denúncia contra Flávio Bolsonaro: "rachadinha" vira "salary split"
A denúncia por corrupção do MPRJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), visando o senador Flávio Bolsonaro, foi manchete em vários jornais do mundo.
Do jornal norte-americano The New York Times ao britânico The Guardian, passando pela revista francesa Le Point ou o canal belga RTBF, vários veículos noticiaram a acusação contra Flávio Bolsonaro, 39 anos, filho mais velho do presidente brasileiro Jair Bolsonaro, por suposta participação em organização criminosa lavagem de dinheiro, apropriação indevida e peculato. Os crimes teriam sido cometidos entre 2007 e 2018, quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro.
"O filho do presidente Bolsonaro é acusado de corrupção", resume em título a revista francesa Challenges, que publicou,ontem, as primeiras informações divulgadas pelas agências de notícias.
O jornal português Publico dá mais detalhes sobre o caso e diz que o filho do chefe de Estado é suspeito de ter recebido indevidamente parte dos salários dos funcionários do seu gabinete. "Esta prática, amplamente difundida entre os detentores de cargos públicos ao nível estadual no Brasil, é conhecida como 'rachadinha'", explica o diário português.
O britânico The Guardian tenta traduzir o conceito de "rachadinha", que vira, nas palavras do correspondente no Rio de Janeiro, "salary split". Isso acontece, explica o jornalista, quando "políticos corruptos sugam uma parte dos salários de seus funcionários financiados publicamente para ganho pessoal".
The New York Times também diz que a "rachadinha" é "uma tática comum nos escalões mais baixos da política no Brasil". Mas o jornal norte-americano informa que, desta vez, "os investigadores descobriram uma série de transferências bancárias suspeitas, incluindo para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro".
A revista francesa Le Point relata que Fabrício Queiroz, ex-oficial da Polícia Militar de 54 anos, ex-assessor do senador e muito próximo à família Bolsonaro, também foi denunciado, com outras quinze pessoas. "A mídia local diz que ele teria ligações com as milícias paramilitares que semeiam o terror nos bairros populares do Rio de Janeiro", resume o semanário em seu site.
A abertura de um processo ainda é incerta, como explicam vários jornais, que também publicam a reação de Flávio Bolsonaro à acusação. O mexicano La Jornada diz que o filho do presidente "negou ter cometido qualquer crime e tem certeza que o tribunal não aceitará a denúncia".
Má notícia para Jair Bolsonaro
O canal de televisão belga RTBF analisa, em seu site, que "essa acusação formal, a primeira de um membro da família desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, é uma má notícia para o dirigente de extrema direita antes das eleições municipais".
Trata-se, segundo The Guardian, do "último constrangimento para o ex-capitão do exército, que assumiu o poder se posicionando como um outsider, como Donald Trump".
Já o diário português Público conclui sua matéria lembrando que Jair Bolsonaro foi eleito "tendo como pano de fundo a Operação Lava Jato, cujas investigações resultaram em condenações de políticos relevantes de praticamente todos os partidos, incluindo o antigo presidente Lula da Silva, que, por isso, não pôde candidatar-se às eleições presidenciais". E, como The Guardian, insiste na ironia, ressaltando que Bolsonaro "fez do combate à corrupção uma das suas principais bandeiras".
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