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Após atentados, jornalistas franceses pedem educação para a mídia nas escolas

13/11/2020 08h51

O jornal Le Monde desta sexta-feira (13) publicou uma carta aberta assinada por 125 jornalistas que defendem mais espaço para a educação para a mídia nas escolas, principalmente após a decapitação do professor de História Samuel Paty. 

Profundamente atingidos pelo ato terrorista que vitimou Paty, morto por ter mostrado caricaturas de Maomé na classe, 125 jornalistas da Agence France-Presse e do grupo Le Monde, que há anos trabalham como voluntários na associação Entre as Linhas, defendem um espaço maior para a educação para a mídia nos estabelecimentos. Eles acreditam que cada um deve fazer a sua parte para educar as crianças e os adolescentes para lidarem com o contraditório, aprenderem a debater e a exercitar seu espírito crítico.

A associação reúne cerca de 200 jornalistas e alguns de aposentados da Agence France-Presse (AFP), Le Monde, Courrier International, L'Obs, Télérama, La Vie e Le Monde des Ados. Todos são voluntários. Trata-se da mobilização mais importante da profissão sobre o assunto na França.

"Somos repórteres, editores da web, editores de fotos, repórteres de imagens, aposentados... Sexta-feira, 16 de outubro, como de costume, contamos e documentamos o que estava acontecendo em Conflans-Saint-Honorine. Mas estávamos abatidos, chocados e queríamos largar nossas canetas, nossas câmeras, largar nossos teclados. Para refletir e pensar sobre Samuel Paty", diz o texto. "Apesar dos receios, sentimos a importância de continuar a intervir, ao lado dos professores, na necessidade de informar livremente", continuam.

Mídia e democracia

Os integrantes da associação contam que há dez anos têm ido às escolas para proporcionar a educação para a mídia e a informação (EMI), "uma questão que se tornou crucial para nossas democracias". "Ajudar crianças e adolescentes a aceitarem palavras contraditórias, a debater, a querer ser informados, a valorizar a liberdade de expressão conhecendo os seus limites. Para serem cidadãos esclarecidos", defendem.

"O que é informação? Qual é a sua fonte?"

"Tentamos transmitir a eles nossos reflexos de jornalistas", explicam. "O que é informação? Qual é a sua fonte? Quem está falando e de onde? Esta "informação", como podemos verificá-la? Podemos publicá-la nas redes sociais? Compartilhar? Dois segundos para parar para pensar. Encontrar o ângulo que os faça pensar, e não reagir".

O grupo de voluntários diz que intervém na sala de aula a pedido dos professores e trabalham lado a lado com eles. A cada ano, realizam cerca de 300 intervenções em toda a França e atingem cerca de 5.000 alunos, professores e bibliotecários. Mas isso ainda não é suficiente. 

A educação para a mídia e a informação está no programa das escolas, mas nenhum tempo é dedicado especificamente a ela, denunciam.

"Muitos professores, bem cientes do problema, fazem esse trabalho. Mas eles nos dizem que gostariam de ser formados para isso. Frequentemente, eles expressam a sensação de estar sozinhos, desamparados, às vezes com medo de trazer à tona questões atuais e de que as coisas saiam do controle. Como reagir a comentários odiosos ou conspiratórios?"

A associação busca mais recursos - material, financeiro e humano - para poder propiciar mais formações nas escolas, e almeja atingir também pais de alunos. Eles querem ajudar todos os educadores que lutam diariamente para despertar o espírito crítico em seus alunos. "Vamos nos mobilizar. E que cada um faça a sua parte", declaram.

 

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