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Pandemia e ameaça terrorista marcam 5 anos do maior atentado na França

Autoridades francesas, incluindo o primeiro-ministro Jean Castex (de máscara, ao centro), prestam homenagem às vítimas do atentado terrorista de 2015 na boate Bataclan, em Paris - Christophe Archambault/Pool/AFP
Autoridades francesas, incluindo o primeiro-ministro Jean Castex (de máscara, ao centro), prestam homenagem às vítimas do atentado terrorista de 2015 na boate Bataclan, em Paris
Imagem: Christophe Archambault/Pool/AFP

13/11/2020 07h45

Há cinco anos, Paris foi alvo de atentados que deixaram 137 mortos e cerca de 400 feridos. Dez terroristas franceses e belgas, divididos em três grupos, realizaram ações coordenadas em Paris e no Stade de France, em Saint-Denis, reivindicadas pelo grupo Estados Islâmico.

Em homenagens com quórum reduzido, devido à epidemia de covid-19, a França lembra o trágico aniversário hoje.

Foram os atentados mais sangrentos já vividos na França. O país ainda se recuperava do choque dos ataques de janeiro do mesmo ano, contra a redação do jornal satírico Charlie Hebdo e o supermercado Hyper Cacher, quando voltou a ser palco do terrorismo naquela fatídica noite de sexta-feira, 13 de novembro de 2015.

Os terroristas começaram o ataque no Stade de France, em Saint-Denis, na periferia de Paris, onde acontecia um jogo amistoso entre a França e a Alemanha, na presença de cerca de 80 mil torcedores e do então presidente francês, François Hollande.

Por sorte, três jihadistas foram barrados pela segurança do estádio e não puderam entrar no local, mas explodiram suas bombas no exterior, deixando um morto e vários feridos.

Pouco depois, os ataques coordenados continuaram nos 10° e 11° distritos de Paris. Frequentadores de vários bares e restaurantes foram metralhados por três terroristas, enquanto um outro comando se dirigiu à sala de espetáculos Bataclan, onde cerca de 1.500 pessoas assistiam ao show do grupo americano de rock Eagles of Death Metal.

No local, os terroristas fuzilaram o público com Kalachnikovs e explodiram bombas —um verdadeiro cenário de guerra é descrito pelas forças de segurança mobilizadas naquela noite.

"O show parou, todo mundo se jogou no chão. Eles não paravam de atirar contra as pessoas em um ritmo infernal. Eu estava com a minha mãe. Ficamos deitados no chão até que, em um momento, alguém disse: 'eles foram embora'. Então, começamos todos a correr e fugimos pela saída de segurança lateral do Bataclan. Ainda havia barulhos de tiros, mas foi assim que eu e minha mãe conseguimos sobreviver. Foi um pesadelo", contou um espectador do show à RFI.

Muitas pessoas conseguiram fugir do local, outras se esconderam nos camarins e até mesmo no teto da sala de shows. Outros espectadores foram mantidos como reféns pelos terroristas. Três horas depois do início do ataque, pouco antes da 1h da manhã, as forças de ordem finalizaram a operação.

Um dos terroristas conseguiu escapar do Bataclan e detonou sua bomba em um café perto do local. Outros dois foram encontrados cinco dias mais tarde, em um apartamento em Saint-Denis, na periferia de Paris, e mortos durante a intervenção da polícia.

O único jihadista sobrevivente, Salah Abdeslam, foi preso na Bélgica, em março de 2016. Seu julgamento começará em 2021 na França.

Homenagens com público reduzido

Devido à pandemia de covid-19, as homenagens às vítimas dos atentados de 13 de novembro de 2015 acontecem na presença de um público reduzido.

O primeiro-ministro francês, Jean Castex, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, e o ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, marcarão presença diante dos locais que foram alvo dos ataques. Eles serão acompanhados pela prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e pelo prefeito de Saint-Denis, Mathieu Hanotin.

"Hoje penso nas famílias, o luto delas não terminou", disse o chanceler Jean-Yves Le Drian ao canal de TV BFMTV, lembrando que o terrorismo continua sendo uma "grande ameaça para o país e seus valores e exige uma grande firmeza."

Além dos representantes oficiais, apenas lideranças de associações de vítimas poderão assistir às homenagens. Familiares e sobreviventes não poderão participar devido às medidas sanitárias, uma situação que entristece parentes de vítimas.

"Não vamos poder nos encontrar e nos reconfortar", diz Nadine Ribet-Reinhart, que perdeu o filho Valentin no ataque contra o Bataclan. "O mais difícil é esse peso que toma conta da gente. É um dia particular, mas vamos vivê-lo sozinhos", afirma, em entrevista à Franceinfo.

Apesar da proibição, Nadine decidiu ir, com o marido, depositar flores diante da sala de shows para prestar homenagem ao filho.

Forte ameaça terrorista

As homenagens às vítimas dos atentados de 13 de novembro de 2015 são marcadas também pelo nível elevado de ameaça terrorista na França. Desde a abertura do processo dos cúmplices dos ataques de janeiro de 2015, no início de setembro, o país voltou para o alvo dos jihadistas.

Em 25 de setembro, duas pessoas foram esfaqueadas em frente à antiga sede do Charlie Hebdo, no 11° distrito de Paris. Em 16 de outubro, Samuel Paty, professor de História e Geografia, foi decapitado perto da escola onde trabalhava por ter mostrado caricaturas do profeta Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão.

Em 29 de outubro, três pessoas, entre elas a brasileira Simone Barreto Silva, foram mortas a facadas na igreja Notre Dame de l'Assomption, em Nice, no sul da França.

Em entrevista ao jornal "Le Figaro" de hoje, os chefes do serviço de segurança da França afirmam que grupos jihadistas estão atualmente em formação, em um momento que o grupo Estado Islâmico tenta se reconstituir.

Segundo eles, embora o país venha observando a realização de ataques "low cost", a possibilidade de novos atentados, "mais sofisticados" não está excluída.

"O risco de um ataque como o de 13 de novembro, se hoje é menor, não desapareceu, como mostram os atos recentemente cometidos por indivíduos isolados, que entraram ilegalmente em nosso território", afirma Nicolas Lerner, diretor-geral da Segurança Interior da França.

Segundo ele, os serviços antiterrorismo trabalham atualmente com a possibilidade do envio ao país de ex-combatentes de organizações terroristas para a realização de atentados. Nos últimos dois anos, seis suspeitos com esse perfil foram presos na França.