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Irã acusa Israel por morte de cientista nuclear do Ministério da Defesa

27/11/2020 16h35

O Irã acusou nesta de sexta-feira (27) Israel de "desempenhar um papel" no assassinato de um cientista iraniano que trabalhava no setor nuclear e alertou que uma "terrível vingança" aguardava os envolvidos no que Teerã chamou de "ato terrorista".

"Terroristas hoje assassinaram um proeminente cientista iraniano. Esta covardia - com sérios indícios do papel de Israel - mostra a guerra desesperada de seus executores", tuitou o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif.

Ele também exortou a comunidade internacional a "pôr fim às suas vergonhosas posições ambivalentes e condenar este ato terrorista".

Programa nuclear

O Ministério da Defesa iraniano já havia identificado a vítima como Mohsen Fakhrizadeh, chefe do departamento de pesquisa e inovação do ministério.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos indicou em 2008 que Fakhrizadeh estava realizando "atividades e transações que contribuíam para o desenvolvimento do programa nuclear do Irã".

O cientista foi descrito pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu como o "pai" do programa de armas nucleares do Irã. Contactado pela AFP, um porta-voz de Netanyahu não quis comentar.

O chefe do Estado-Maior, general Mohammad Baghéri, afirmou que "uma terrível vingança" aguardava "os grupos terroristas e os responsáveis ??e executores deste atentado covarde".

A morte de Mohsen Fakhrizadeh é um "golpe duro e amargo", tuitou Baghéri, segundo a agência de notícias estatal Irna, garantindo que os iranianos "não terão descanso até que tenhamos caçado e punido as pessoas envolvidas".

O crime

Mohsen Fakhrizadeh ficou "gravemente ferido" quando seu carro foi alvo de vários agressores, que por sua vez foram atacados pela equipe de segurança do cientista, disse o ministério em um comunicado, acrescentando que a equipe médica não conseguiu reanimá-lo.

De acordo com um repórter da televisão estatal, uma picape Nissan negra carregando explosivos escondidos em meio a madeira explodiu na frente do carro de Fakhrizadeh, antes de ele ser alvo de pesados ??tiros de um veículo que circulava em outra pista.

Imagens e vídeos da cena mostram um carro preto na beira de uma estrada, o para-brisa crivado de balas. O sangue é visível no asfalto. Vários meios de comunicação locais, incluindo as agências de notícias Tasnim e Fars, noticiaram o ataque ao cientista na cidade de Absard, a leste de Teerã.

Biden e o Irã  

Este assassinato ocorreu menos de dois meses antes da chegada à Casa Branca do democrata Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos.

Biden pretende mudar sua posição sobre o Irã após a presidência de quatro anos do republicano Donald Trump, que em 2018 retirou-se do acordo sobre o programa nuclear do Irã assinado em Viena mais três anos antes. Os Estados Unidos, como parte de sua política de "pressão máxima", restabeleceram e reforçaram as sanções contra o Irã.

Para Trump, esse acordo não oferece garantias suficientes para impedir que Teerã adquira armas nucleares. O Irã sempre negou querer esse tipo de armamento. Trump retuitou informações sobre o assassinato do cientista iraniano nesta sexta-feira (27), mas não fez comentários pessoais.

Fakhrizadeh foi morto no dia seguinte à transferência, pela Tailândia, de três iranianos detidos por um ataque à bomba fracassado contra diplomatas israelenses em Bangcoc, em 2012.

Segundo Teerã, essa transferência foi feita em troca da libertação nesta quarta-feira da pesquisadora australiana-britânica Kylie Moore-Gilbert.

Condenada a dez anos de prisão por espionagem a favor de Israel - o que ela sempre negou - esta especialista em Oriente Médio foi libertada após mais de 800 dias de detenção.

Outros assassinatos

Vários outros cientistas especializados no setor nuclear no Irã foram assassinados nos últimos anos, com Teerã sistematicamente culpando Israel.

O jornal americano The New York Times relatou em meados de novembro que Abdullah Ahmed Abdullah, também conhecido como Abu Mohammed al-Masri e número dois da Al-Qaeda, foi morto a tiros em Teerã em 7 de agosto por agentes israelenses, durante um missão secreta patrocinada por Washington.

O Irã negou a presença de integrantes desse grupo jihadista em seu território, afirmando que o assassinato mencionado pelo diário americano foi "informação forjada".

Os assassinos atiraram no carro da vítima e também mataram sua filha Miriam, viúva de um dos filhos de Osama Bin Laden, o líder da Al-Qaeda na década de 1990, segundo o The New York Times.

As agências estatais Irna News Agency e Mehr News Agency relataram um incidente semelhante na época e identificaram as vítimas como Habib Dawoud, um professor de história libanesa de 58 anos, e sua filha Maryam, 27, sem dar mais detalhes.

(Com informações da AFP)