"Náusea": imprensa francesa repudia violência policial contra homem negro
O espancamento de um produtor musical negro por quatro policiais em Paris é duramente condenado pela imprensa francesa nesta sexta-feira (27). As imagens viralizaram nas redes sociais e chocaram a opinião pública.
"Náusea": apenas uma palavra estampa a capa do jornal Libération, que exibe em página inteira o rosto ensanguentado do produtor musical Michel Zecler, registradas após a agressão. Os policiais afirmam que o homem foi abordado por não estar usando máscara na rua e teria reagido de forma "ameaçadora" à intervenção. No entanto, imagens das câmeras de segurança mostram o contrário, mostram a vítima no chão, tentando se defender de socos e pontapés, além de xingamentos racistas, que duram mais de cinco minutos.
Libération lembra que o trágico episódio ocorre poucos dias depois de a Assembleia francesa ter aprovado, em primeira leitura, o projeto de lei sobre a "segurança global", dentro do qual o artigo 24 suscita uma grande polêmica. O texto prevê punir quem captar e difundir imagens que possam comprometer a integridade física e moral da polícia. Segundo Libé, a agressão da qual Zecler foi alvo, além das violências contra migrantes, durante a evacuação de um acampamento no leste de Paris na segunda-feira (23), provam a necessidade da "livre difusão de imagens das forças de ordem em ação".
"Ministro do Interior sob pressão após novas violências da polícia" é manchete no jornal Le Figaro. A matéria destaca as reações de Gérald Darmanin, que sempre se recusou a reconhecer a brutalidade das forças de segurança da França. No entanto, em entrevista na TV na noite de quinta-feira (26), o ministro do Interior não teve escapatória e classificou o episódio como "extremamente chocante".
Investigações
O jornal Le Parisien publica que os quatro policiais autores das violências contra o produtor musical foram suspensos e Darmanin pediu a expulsão deles. Zecler foi interrogado na quinta-feira pela Inspeção Geral da Polícia Nacional, encarregada da investigação do caso.
O órgão vai comparar a versão da vítima a dos policiais, que, segundo o boletim de ocorrência ao qual Le Parisien teve acesso, afirma que o produtor musical foi abordado porque não estava usando máscara e demonstrou "nervosismo" ao perceber a presença dos policiais, representando "perigo".
O caso mobiliza a opinião pública na França, publica Le Parisien. Desde a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, que se dizem escandalizados, aos jogadores de futebol Antoine Griezmann e Kylian Mbappé, que se pronunciaram nas redes sociais condenando a agressão.
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