Topo

França recomenda no máximo seis adultos para festas de fim de ano

04/12/2020 16h41

O governo francês fixou em seis adultos o número máximo de participantes nas ceias de Natal e Ano Novo, sem contar crianças e adolescentes. Apesar de ser apenas uma recomendação, é uma das mais estritas da Europa. Os maiores de 18 anos são considerados adultos, para efeito de prevenção contra a Covid-19.

A maioria dos países europeus tem adotado a conta de 6 a 10 pessoas nas festas de fim de ano, mas no caso da França não há recomendação específica para excluir os idosos. Na Espanha também não. A Alemanha aconselha 10 pessoas como regra geral, mas em Berlim a indicação é de no máximo cinco pessoas, porque a circulação do vírus, na capital alemã, é mais intensa.

Evitar o isolamento dos idosos tem sido uma preocupação das autoridades - a depressão e o sentimento de abandono também matam. O governo francês decidiu, então, ser pedagógico e insistir nas recomendações de prevenção: lavar as mãos com frequência; ventilar os ambientes durante dez minutos a cada hora, mesmo se estiver nevando; ficar com a máscara facial dentro de casa e desinfetar mesas e maçanetas várias vezes durante o encontro. Não é preciso desinfetar o pacote de presente no microondas ou com um aparelho a vapor, como brincou um infectologista, mas as outras medidas básicas contra o contágio são fundamentais, mesmo em família ou entre amigos, o que é a mensagem mais difícil de ser assimilada.

Uma pesquisa do instituto Ifop apontou, nesta semana, que 26% dos franceses pretendem fazer um teste de Covid-19 na véspera das festas, principalmente se terão idosos que não veem faz tempo em casa. Dos entrevistados, 40% disseram que vão usar máscaras mesmo estando em família e 24% planejam comer em mesas separadas - crianças de um lado, idosos de outro. Essa pesquisa também revelou que só 2% dos franceses vão se reunir com amigos para as festas.

Existe uma consciência cada vez maior sobre o risco de transmissão e uma vontade de evitar a terceira onda da epidemia, mesmo se isso representa abrir mão de algumas liberdades.

Até o Natal, o governo francês fará pela primeira vez uma testagem massiva em três cidades: Saint-Etienne, no sudeste do país, em Lille, no norte, e Le Havre, na Normandia. Toda a população dos três municípios será testada. Mas alguns epidemiologistas ainda não entenderam qual é o objetivo: se for para isolar os doentes, vale à pena, mas isso ainda não foi aprovado pelo Parlamento. Se for apenas para alimentar estatísticas, é dinheiro público mal empregado.

Férias sem esqui

Os europeus costumam aproveitar as férias de fim de ano para esquiar, mas neste ano não será possível. França e Alemanha, que lideraram uma queda de braço com os vizinhos para proibir o esqui durante o período das festas, venceram essa parada: Áustria, Itália, Espanha e Andorra, que inicialmente pretendiam receber turistas, anunciaram que só abrirão suas estações para estrangeiros a partir de 7 de janeiro. Nesses países, só os nacionais, que têm casa na montanha, poderão passar o fim do ano nas estações. A exceção ficou por conta da Suíça, país que não faz parte da União Europeia. Até a segunda semana de janeiro, as férias escolares terão terminado na maioria dos países, e a frequência de turistas será menor.

Trinta pontos de estocagem das vacinas a 80 graus negativos

Na França, os preparativos para a vacinação contra a Covid-19 estão avançados. A proteção será gratuita para toda a população, exceto para menores de 18 anos, que não serão vacinados. A campanha começará em janeiro pelas vacinas da Pfizer/BioNtech e da Moderna, em fase final de aprovação na Agência de Medicamentos Europeia.

Esses imunizantes utilizam a tecnologia do RNA mensageiro, que consiste em injetar fragmentos de instruções genéticas nas células humanas para que produzam proteínas ou antígenos específicos do coronavírus, sem introduzir o vírus no nosso corpo. Posteriormente, essas proteínas orientam o sistema imunológico a produzir anticorpos contra a Covid-19.

O primeiro grupo vacinado será o de idosos residentes em casas de repouso e os profissionais que trabalham nesses estabelecimentos, cerca de 1 milhão de pessoas. Em fevereiro, será a vez de pessoas consideradas vulneráveis, seja pela idade ou por doenças crônicas (14 milhões). A terceira fase, entre abril e junho, será aberta a todos os maiores de 18 anos que desejarem se vacinar. O custo dessa campanha será de € 1,5 bilhão, cerca de R$ 6,27 bilhões.

A França não vai construir centros de vacinação, como têm feito outros países europeus. Houve experiências desse tipo fracassadas no passado e ainda existe um imenso trabalho de pedagogia a ser feito para convencer os franceses a se vacinar.

O governo prefere que os médicos clínicos-gerais, em seus consultórios, estejam na linha de frente da vacinação. Eles contam com a confiança da população e podem tranquilizar seus pacientes sobre temores infundados. No caso das 10 mil casas de repouso, agentes de saúde administrarão as duas doses das vacinas no local.

A questão do armazenamento dos imunizantes da Pfizer/BioNtech e da Moderna, que exigem 70, 80 graus negativos para manter suas propriedades, foi equacionada com a instalação de câmaras frigoríficas em mais de 30 pontos do país, incluindo em hospitais. O transporte intermediário será feito por meio de caixas especiais protegidas por gelo seco. Tudo já foi previsto. Na verdade, essas vacinas aguentam até cinco dias num refrigerador tradicional.    

Graças ao sistema de compras negociado pela Comissão Europeia, a França terá um potencial de 200 milhões de doses. Isso permitirá que 100 milhões de pessoas sejam vacinadas, já que duas injeções são necessárias com algumas semanas de intervalo.