Topo

Macron rejeita entrada do poeta gay Arthur Rimbaud no Panthéon

14/01/2021 17h59

Intelectuais franceses lamentaram nesta quinta-feira (14) a rejeição, pelo presidente francês Emmanuel Macron, do pedido de entrada de Arthur Rimbaud no Panthéon, alegando respeito à vontade dos descendentes do poeta. A honraria, segundo seus defensores, levaria mais diversidade e representatividade para o Panthéon.

"Tendo em conta o papel particular do Panthéon na construção de uma memória republicana compartilhada, eu não quero ir contra a vontade manifestada pela família. O corpo de Arthur Rimbaud não será retirado" do túmulo familiar em Charleville-Mézières, escreveu na quarta-feira (13) o chefe de Estado ao advogado da família. Na carta, Macron não menciona a questão do reconhecimento da homofobia.

O presidente francês é o único que pode decidir quem entra no mausoléu, onde estão enterradas personalidades que se destacaram em diversas áreas e contribuíram para a ciência, literatura e política na França.

Rimbaud e Verlaine

Uma petição pedindo a entrada no Panthéon do poeta e seu amante Paul Verlaine foi assinada por quase todos os ex-ministros da Cultura franceses e pela atual, Roselyne Bachelot.   

"São dois poetas maiores de nossa língua" e "dois símbolos da diversidade. Eles tiveram de enfrentar a homofobia implacável de sua época. Eles são os Oscar Wilde franceses. Seria justo celebrar hoje sua memória", diz a petição que foi assinada por escritores célebres, intelectuais, acadêmicos e universitários.

Em setembro a sobrinha bisneta de Rimbaud, Jacqueline Teissier-Rimbaud, se opôs à homenagem, criticando o destaque dado à relação dos escritores, uma posição que é compartilhada pela associação Os amigos de Rimbaud.

Segundo ela, se os poetas fizerem sua entrada juntos no Panthéon, "todo mundo vai pensar 'homossexuais'. Mas não é verdade. Rimbaud não começou sua vida com Verlaine e não terminou com ele, são apenas alguns anos de sua juventude", diz. Jacqueline também afirma que seu ponto de vista é compartilhado pelo filho e netos.

"De maneira geral, os Amigos de Rimbaud tendem a pensar que a proposta não convém ao personagem de Arthur", afirma seu presidente Alain Tourneux. "Associar Rimbaud e Verlaine de maneira definitiva é, sem dúvida, exagerado", completa.  

Diversidade e representatividade

Arthur Rimbaud nasceu em Charleville, na fronteira da França com a Bélgica, em 1854. Apesar de ter abandonado a literatura ainda jovem, aos 20 anos, sua obra é considerada uma das mais importantes da literatura francesa.

Durante os anos da juventude, Rimbaud vive um romance com o escritor francês Paul Verlaine. A história de amor foi, inclusive, tema do filme "Eclipse de uma Paixão" (1995), com o ator Leonardo DiCaprio no papel de Rimbaud.

Roselyne Bachelot destacou a importância do reconhecimento da homossexualidade do poeta. Um dos autores da petição, Frédéric Martel, lamentou a decisão do presidente e dos herdeiros "anti-gay" de Rimbaud e pediu maior diversidade no Panthéon. "A na hora de um novo Panthéon, mais próximo dos franceses, mais representativo, chegará inexoravelmente".

A questão da representatividade no mausoléu é levantada também por grupos feministas. Em outubro, dezenas de membros de associações de luta pelo aborto e pelos direitos das mulheres fizeram uma manifestação para pedir a entrada da advogada e deputada e feminista Gisèle Halimi, que faleceu em julho aos 93 anos, no célebre monumento.  

Entre as 78 personalidades enterradas no Panthéon, apenas 5 são mulheres.