Sarkozy enfrenta nova investigação por atividade de consultoria suspeita para seguradora russa
A Procuradoria Nacional Financeira (PNF) francesa está investigando o ex-presidente Nicolas Sarkozy por supeita de "tráfico de influência" e "ocultação de crime ou delito", em conexão com suas atividades de consultoria na Rússia. O inquérito, conduzido por juízes anticorrupção, foi aberto em meados do ano passado, revelou nesta sexta-feira (15) o site de informações Médiapart.
A Justiça francesa busca verificar se o ex-chefe de Estado atuou apenas como consultor da seguradora russa Reso-Garantia, o que seria perfeitamente legal, ou se ele teria se envolvido em atividades de lobby potencialmente criminosas, representando interesses de oligarcas russos, afirma o Mediapart.
Segundo o veículo de informação, Sarkozy recebeu um pagamento de € 500 mil referente a um contrato de consultoria assinado com a companhia russa em 2019, cujo valor global era de € 3 milhões. O depósito, ocorrido no início de 2020, foi rastreado pelo sistema Tracfin, uma ferramenta do Ministério das Finanças francês que monitora as transações bancárias superiores a cerca de € 100 mil, para evitar lavagem de dinheiro. Ao detectar o depósito vindo da Rússia na conta de Sarkozy, a equipe do Tracfin enviou um relatório à Procuradoria Nacional Financeira (PNF), que decidiu abrir uma investigação.
"Conselheiro especial"
A seguradora Reso-Garantia pertence a dois irmãos russo-armênios, os bilionários Sergey e Nikolay Sarkisov. Eles confirmaram ao site Mediapart terem contratado Sarkozy como "conselheiro especial" e "presidente da comissão de consultoria estratégica do conselho de administração".
Fundada em 1991, a Reso-Garantia é uma das principais seguradoras da Rússia. A companhia é especializada principalmente em seguros de automóveis e motocicletas e possui 11 milhões de clientes. Em 2007, a seguradora francesa AXA fechou um acordo com os accionistas da Reso-Garantia para a aquisição de 36,7% do capital desta empresa, por cerca de € 810 milhões. De acordo com o site Mediapart, a AXA é um cliente importante do escritório de advocacia Realyze, cofundado em 1987 por Nicolas Sarkozy.
A seguradora Reso-Garantia pertence a dois irmãos russo-armênios, os bilionários Sergey e Nikolay Sarkisov. Eles confirmaram ao site Mediapart ter contratado Sarkozy como "conselheiro especial" e "presidente da comissão de consultoria estratégica do conselho de administração".
Procurado para comentar as revelações do site Mediapart, Sarkozy não se pronunciou. Mas assessores disseram que ele está "totalmente tranquilo" e garante que "as atividades de consultoria" foram realizadas "no estrito cumprimento das normas legais e éticas". Sarkozy já expressou em várias ocasiões sua irritação contra a PNF: "Tenho a impressão de que o Ministério Público Financeiro foi criado para mim", declarou em 7 de dezembro passado, durante seu julgamento no chamado processo das escutas telefônicas.
Casos em tramitação na Justiça
Esta nova investigação representa um problema jurídico adicional ao ex-presidente de direita. Em dezembro, ele foi julgado por outro suposto delito de corrupção e tráfico de influência no caso das escutas telefônicas. A sentença do Tribunal de Paris será anunciada em 1º de março. A Promotoria pediu quatro anos de prisão contra o ex-presidente, dos quais dois com direito a sursis.
A partir de 17 de março, ele será novamente julgado, desta vez no caso Bygmalion, em que é suspeito de "financiamento ilegal" de sua campanha eleitoral de 2012. Mas o principal escândalo que preocupa Sarkozy é o de suspeita de financiamento líbio da campanha presidencial de 2007. Nesse processo, a PNF evoca um "pacto de corrupção" com a ditadura de Muammar Kaddafi.
Sarkozy foi o primeiro ex-presidente da França desde o estabelecimento da Quinta República, criada pela Constituição de 1958, a comparecer como réu em um tribunal. Antes dele, apenas Jacques Chirac (1932-2019), seu antecessor e mentor político, foi julgado e condenado por desvio de verbas públicas, quando ocupou o cargo de prefeito de Paris. Porém, devido a problemas de saúde, Chirac nunca compareceu perante um tribunal.
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