Topo

"Se não pararmos de destruir nossas florestas, atingiremos um ponto de não-retorno", alerta Juliette Binoche

15/01/2021 13h28

A RFI foi escolhida pela diretora francesa Claire Denis como local de filmagem de seu mais novo longa-metragem, "Radioscopie" sobre o universo radiofônico. O filme é estrelado por Juliette Binoche, que interpreta uma jornalista. A francesa, vencedora do Oscar de atriz coadjuvante em 1996, tem origens brasileiras e concedeu nesta sexta-feira (15) uma entrevista em que tece críticas ao desmatamento da Amazônia e de outras florestas no mundo.

A atriz francesa Juliette Binoche revelou suas origens brasileiras quando visitou o Brasil pela primeira vez, em novembro de 2019. Sua trisavó paterna, Úrsula de Araújo Mattos nasceu na Baixada Fluminense, em meados do século 19.

Durante sua curta visita ao Rio, Binoche falou sobre a sua preocupação com as queimadas na Amazônia e criticou as políticas ambientais do presidente Bolsonaro. Pouco mais de um ano depois, ela diz que continua seguindo a situação das florestas no Brasil e no mundo.

"É uma catástrofe. Vários cientistas vinculam as pandemias, ou a pandemia que estamos vivendo, ao desequilíbrio da biodiversidade. Cortamos e incendiamos as florestas impunemente para plantar palmeiras e produzir combustível, que eles dizem ecológico, que abastece nossos carros e transportes públicos aqui na Europa. É uma catástrofe ecológica; espero que a gente pare com esse massacre que estamos fazendo, que é o nosso próprio massacre. Se não tivermos consciência que nossas florestas são realmente o pulmão da nossa sobrevivência, atingiremos um ponto de não- retorno", alerta a atriz.

A posição de Juliette Binoche ecoa com as recentes declarações do presidente francês Emmanuel Macron sobre a dependência da Europa da soja brasileira, que "contribuiria para o desmatamento da Amazônia" e que provocaram uma nova reação de Jair Bolsonaro contra o presidente francês.

Atriz engajada

A atriz tem se engajado a favor de políticas ambientais. Em maio, ela foi uma das signatárias do manifesto lançado pelo fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado pela "proteção dos índios contra o coronavírus".

"Desde o magnífico documentário de Win Wenders e do filho de Salgado sobre o trabalho dele, ele faz a gente tomar consciência que temos que agir. E agir é respeitar o que é vivo e o que a vida nos deu. Isso passa pela consciência de que os vegetais e animais são uma necessidade, e que não estamos sozinhos na terra a decidir tudo como se fôssemos Deus."

Binoche lamenta que seja necessário o surgimento de uma crise, de uma catástrofe, para que a consciência humana mude. Ela diz que vai continuar mobilizada e revela um projeto que tem com a jornalista de investigação francesa Marie-Monique Robin:

"Vamos encontrar cientistas em todo o mundo, principalmente nas Américas, na África, na Tailândia, na Europa, que trabalham em florestas e laboratórios diferentes. Vamos mostrar que eles fazem o mesmo diagnóstico que cortar as árvores estressa os animais e esse estresse faz surgir vírus que em seguida contaminam os homens. Essa pandemia não é por acaso, ela vem da nossa impunidade de se servir e de maltratar a natureza."

Raízes brasileiras

Juliette Binoche começou a carreira em 1983, aos 19 anos. Ele já trabalhou em quase 70 longas-metragens com grandes nomes do cinema mundial, como Jean-Luc Godard, Krzysztof Kieslowski, Chantal Akerman ou Michael Haneke, mas nunca trabalhou com um cineasta brasileiro ou filmou no Brasil. Ela chegou a ter um projeto com Walter Salles que nunca saiu do papel.

À RFI ela afirmou que gostaria de poder desenvolver um trabalho no país onde tem raízes. "Gostaria de ter outros projetos. Não falo português, o brasileiro, e por isso é difícil. A língua é importante. Mas espero que um dia aconteça (um filme brasileiro) e que o Walter Salles volte a fazer filmes, porque ele parou um pouco e seria legal se ele continuasse", sugere.

Juliette Binoche participou das filmagens na RFI durante três dias, de quarta (13) a sexta-feira (15). "Radioscopie" é seu terceiro longa-metragem com a renomada cineasta francesa, Claire Denis, que escolheu a RFI como local de filmagem por ser "sua rádio preferida". O filme, estrelado também por Vincent Lindon, ainda não tem data de lançamento prevista.