Manifestantes enfrentam mau tempo na França para protestar contra lei de segurança global
Opositores do projeto de lei que penaliza a divulgação de imagens de policiais em ação saíram novamente às ruas em Paris e em várias cidades neste sábado (16) para lutar "pelo direito à informação, contra a violência policial, pela liberdade de manifestação e contra a vigilância em massa".
Cerca de 80 eventos estavam programados em todo o país. Os manifestantes enfrentaram um clima hostil, num fim de semana em que 32 departamentos franceses estão em vigilância por causa da neve e do gelo.
Na capital, uma passeata reuniu milhares de pessoas que marcharam sob chuva e neve em direção à Praça da Bastilha. Eles caminhavam atrás de uma faixa com uma mensagem exigindo a retirada do projeto de lei, que ainda deverá ser votado. "Polícia em toda parte, justiça em lugar nenhum" gritavam os participantes, acrescentando que não seriam impedidos de se manifestar.
A polícia interveio para impedir a realização de uma festa rave não autorizada perto do local do evento. Os organizadores foram multados e tiveram equipamentos de som confiscados.
Somos todos organizadores de raves
Em várias cidades, houve cortejos contra a "repressão desproporcional" da polícia, de acordo com os participantes, especialmente após a rave de Lieuron (Ille-et-Vilaine) que reuniu 2.400 pessoas para o Ano Novo. Os protestos reuniram um grupo numeroso de manifestantes em Nantes, onde eles carregavam faixas com os dizeres "somos todos organizadores de raves" ou "Estado assassino: vidas, culturas, liberdades".
Em Lille, o desfile aconteceu sob forte nevasca. Lucile Fremaux, supervisora ??escolar que participava da marcha, disse que "com um ambiente sensível e as leis que o governo cria, a situação torna-se insuportável".
Thimotée Carpentier, educadora, destacou que há "cada vez mais controle sobre as pessoas, não apenas sobre os delinquentes". "Estou protestando contra esse regime que se mostra cada vez mais radical. É uma ditadura e a gente se pergunta: onde vamos parar com esta lei de segurança?".
"Se este é o país dos direitos humanos e da liberdade, eu tenho vergonha de ser francês!", lamentou François, que usava um colete amarelo durante a manifestação parisiense.
As "marchas pela liberdade" acontecem a pedido da coordenação de associações e sindicatos mobilizados contra o projeto de lei que restringe a divulgação de imagens da polícia. O texto é extremamente criticado pela oposição e por jornalistas, que acreditam que a medida é um ataque direto à liberdade de imprensa. Já ativistas dos direitos humanos afirmam que o artigo 24 pode resultar na banalização de violências policiais durante manifestações, como já vem ocorrendo nos últimos anos.
Votação em março
Já aprovado em primeira instância na Assembleia Nacional, o projeto deve ser apreciado no Senado, em março. "Ele trata do próprio respeito pelo Estado de direito" e o controle das autoridades "pelos cidadãos, Parlamento, justiça e imprensa", sublinham as associações que organizam as marchas, acrescentando que "medidas de vigilância da população devem permanecer a exceção".
Os manifestantes também visam os artigos 21 e 22 do texto sobre o uso de câmeras de pedestres e drones por parte da polícia, e o "novo plano nacional para a manutenção da ordem "(SNMO), regularmente invocado pela polícia para limitar a cobertura midiática das manifestações.
O projeto foi fortemente criticado na França pela Defensoria dos Direitos Humanos e pela Comissão Consultiva Nacional de Direitos Humanos, e no exterior por relatores especiais das Nações Unidas e pelo Comissário de Direitos Humanos do Conselho Europeu.
A mobilização contra a proposta de lei de segurança global, iniciada em 17 de novembro, já deu origem a vários dias de manifestações, muitas vezes acompanhadas de protestos dos "coletes amarelos". A maior delas ocorreu em 28 de novembro e reuniu 500 mil pessoas em todo o país, de acordo com números fornecidos pelos manifestantes, 133 mil na contagem do governo.
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