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Confusão e falta de informações marcam início de vacinação de idosos fora de asilos na França

18/01/2021 13h19

Em meio a críticas de uma campanha de vacinação lenta, o governo francês alardeou o início de uma nova fase de imunização contra a Covid-19 nesta segunda-feira (18) na França, para idosos com mais de 75 anos que não vivem em residências e para pessoas com patologias de alto risco. Mas muitos não conseguiram marcar hora e ficaram sem previsão de agendamento.

O ministro da Saúde francês, Olivier Véran, declarou que 833 centros estavam "abertos e prontos para receber reservas". A cidade de Paris dispõe de 10 mil doses para a primeira semana. "Infelizmente é o que o governo prevê de nos fornecer", declarou Véronique Levieux, do serviço de terceira idade e solidariedade entre gerações, da prefeitura de Paris. "Nesse ritmo, essa fase vai levar de sete a oito meses para ser completada", explicou à RFI.

Sem uma resposta por telefone, vários idosos se dirigiram nesta tarde a um centro médico do 12° distrito, em Paris, para tentar se vacinar. Os funcionários do estabelecimento passavam o número de telefone da central do ministério ou instruíam as pessoas para que acessassem um site para agendamento. 

"Estou tentando marcar um horário desde quinta-feira", diz o aposentado Serge Cassagne, de 85 anos. "Tentei até em outras cidades", diz mostrando um atestado médico que enfatiza a sua condição de saúde de risco. "Venho até aqui e não tem nem uma lista de espera".

A nova etapa de imunização diz respeito a cerca de 5 milhões de idosos e outras 800 mil pessoas que apresentam riscos ligados a problemas como insuficiência renal e tratamentos de câncer. Até então, a vacinação estava reservada aos moradores de asilos e trabalhadores do setor de saúde.

Mireille M., 81 anos, vive em Marole, um pequeno vilarejo com menos de mil habitantes na região de Blois, no Vale do Loire, a oeste de Paris. Ela tenta desde sexta-feira marcar um horário para se vacinar.

"Eu fui ao site do governo, que me manda para outro endereço, tudo está bloqueado, não há possibilidade de marcar um horário. Ontem, domingo, encontrei a informação no site - e olha que é preciso procurar bem - de que as inscrições se abririam hoje, segunda, e que a vacinação começaria na quarta-feira. Tentei hoje cedo pelo telefone, disseram que ainda não estavam marcando. Liguei de novo, às 13h, e me disseram que estava tudo já lotado. Eu consigo acessar isso por internet e pelo telefone, mas imagine quem não usa um computador ou não tenha quem ajude."

Roberte L., 77 anos, mora sozinha no 13° distrito de Paris. Com a ajuda de um vizinho, ela tentou, na última sexta-feira (15), marcar um horário. Ela fez várias tentativas infrutíferas pela internet e por telefone. No final de semana, ela conseguiu uma vaga para a próxima sexta-feira (22). Mas após conversar ao telefone com seu médico pessoal, ela acabou desistindo de se vacinar. Ela fala de suas dúvidas:

"Estou dividida, perplexa com a maneira que o governo lida com a crise. Primeiro dizem que a máscara não serve para nada, em seguida ela vira obrigatória, simplesmente porque não havia em quantidade suficiente. A partir daí, os médicos e professores de Medicina tinham opiniões diferentes. Agora dizem que há várias vacinas; parece que as da Pzifer e Moderna são parecidas. Pelo que eu entendi, é o DNA do vírus que é inoculado na pessoa, diferente de uma vacina clássica. Falam tanta coisa de um lado e outro: o intervalo entre as vacinas muda, não se sabe se haverá o bastante, e se houve, talvez não seja a mesma. Hoje conversei com meu médico e ele me aconselhou esperar. Não sou contra a vacina em si, várias doenças desapareceram graças a elas, mas essa da Covid, já não sei mais."

Personalidades fazem interesse pela vacina crescer

Uma pesquisa de opinião IFOP divulgada no domingo pelo jornal Le Parisien indica que 54% dos franceses querem ser vacinados contra o novo coronavírus, que já matou mais de 2 milhões de pessoas no mundo. É um aumento de 15 pontos em relação a dezembro, observa o diário.

O professor Jean-Daniel Lelièvre, chefe do serviço de doenças infecciosas do hospital Henri-Mondor de Créteil, a sudeste de Paris, citado pela rádio francesa RMC, acredita que esse aumento no interesse se "dá devido às muitas personalidades que declararam terem se vacinado", principalmente atletas de alto nível.