Especialistas independentes acusam China e OMS de terem demorado a agir contra o coronavírus
Um relatório publicado nesta terça-feira (19) por um grupo de especialistas independentes acusa tanto o governo chinês como a Organização Mundial da Saúde (OMS) de terem reagido de maneira tardia diante da rápida propagação do coronavírus, há um ano. As acusações correm o risco de desagradar Pequim, em um momento em que uma equipe da OMS está em Wuhan realizando uma investigação sobre a origem da pandemia de Covid-19.
Com informações de Stéphane Lagarde, correspondente da RFI em Pequim, e agências
Co-presidido pela ex-primeira-ministra da Nova Zelândia Helen Clark e pela ex-presidente da Libéria Ellen Johnson Sirleaf, o Grupo Independente sobre a Preparação e Resposta à Pandemia, apresentou seu relatório provisório ao Conselho Executivo da OMS. Segundo o documento, a pandemia de Covid-19 expôs as fraquezas da organização: uma instituição com recursos insuficientes e "poder limitado" em relação aos Estados.
O relatório também afirma que a China e a OMS poderiam ter agido com mais rapidez e de forma mais contundente para alertar o mundo sobre a doença, que já se propagava rapidamente em janeiro de 2020. Pequim registrou os primeiros casos da pneumonia viral em novembro de 2019 e a primeira morte em 11 de janeiro de 2020. O país foi duramente criticado por suspeita de omitir informações sobre a quantidade de infectados e óbitos.
Depois de muita hesitação, em 30 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decidiu declarar estado de emergência global em razão do coronavírus. Nesta época, outros países asiáticos - como Tailândia, Japão e Coreia do Sul - já anunciavam os primeiros casos da doença. Foi apenas em 11 de março do ano passado que o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, oficializou a pandemia de coronavírus.
OMS é acusada e ineficácia
O documento assinado por especialistas independentes também revela que a agência da ONU "não tem meios suficientes para cumprir o que se espera dela", nem poder de coação. "Em última análise, a OMS não tem o poder de impor nada ou de investigar 'por conta própria' em um país", disse Ellen Johnson Sirleaf em uma entrevista coletiva.
O grupo responsável pelo relatório considera "lamentável" o "poder limitado" da OMS durante surtos de doenças para, em particular, "ser capaz de implantar meios locais de apoio e contenção". "Os incentivos à cooperação são insuficientes para garantir a participação efetiva dos Estados (...) com a disciplina, a transparência, responsabilidade e celeridade exigidas", salienta o documento.
Os especialistas também dirigiram suas críticas à China. "Todos os Estados-membros procuram a OMS em busca de uma liderança, coordenação e conselhor, mas não estão dispostos a dar ao organismo autoridade, acesso e todo o financiamento de que necessita para alcançar isso. Portanto, está claro que isso não funciona", declarou a ex-presidente da Libéria.
O grupo também considera que o sistema de alerta global de pandemia não está adaptado às necessidades. "Os patógenos podem se mover em minutos e horas, não dias e semanas", disse Helen Clark, explicando que o sistema de alerta parece ser de uma era analógica já ultrapassada e deve ser adaptado à era digital. Ela acrescentou: "Foi somente um mês depois que o alarme foi dado em Wuhan que o sistema internacional deu seu alerta mais forte" para a pandemia.
As conclusões finais do painel serão divulgadas em maio diante da Assembleia Geral da OMS.
Missão da OMS em Wuhan
Por enquanto, tudo corre bem para a missão da OMS na cidade considerada como o berço da pandemia de Covid-19. As mídias oficiais chinesas divulgam as informações publicadas pelo grupo de especialistas da organização da ONU na rede social Weibo: elogios ao acolhimento na capital da província de Hubei, fotos do nascer do sol ou mesmo dos cafés da manhã equilibrados oferecidos pelos hotéis responsáveis por organizar a quarentena de quem chega do exterior.
No entanto, as acusações sobre a demora da resposta da China no início da epidemia não devem ser publicadas pelos jornais do país. O certo é que as constatações do grupo de especialistas independentes devem irritar as autoridades chinesas que mudaram o discurso desde que conseguiram controlar a epidemia. Pequim quer demonstrar que virou a página sobre a falta de transparência em relação à doença há um ano e divulga agora a hipótese de que o vírus tenha origem estrangeira.
Apesar das críticas da comunidade internacional à China, o atraso na reação foi constatado por especialistas chineses que realizaram uma investigação em Wuhan em janeiro de 2020. O resultado da visita motivou o lockdown da megalópole em 23 de janeiro do ano passado, seguida de sanções impostas a autoridades locais.
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