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Globo de Ouro online consagra Chloe Zhao, diretora de "Nomadland"

01/03/2021 06h43

O Globo de Ouro anunciou neste domingo (28) os vencedores de sua 78ª edição, promovida pela Associação da Imprensa Estrangeira em Hollywood. O evento teve apresentação em Nova York e Los Angeles. Por conta da pandemia de Covid-19, todos os indicados participaram ao vivo por videoconferência. A grande estrela da noite foi Chloe Zhao, primeira diretora não-branca a vencer o prêmio de melhor direção.
 

Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

Na plateia em Los Angeles e Nova York estavam apenas os heróis da vida real, que estão na linha de frente da pandemia, atuam nos hospitais e ganharam a festa VIP em homenagem ao trabalho no dia a dia.

Pela primeira vez, as estrelas participaram da premiação de suas casas: algumas com cachorros ou com famílias inteiras acompanhando a premiação e roubando a cena. Muitas celebridades vestiram roupa de festa, mas o destaque da noite foi a descontração, como foi o caso da diretora asiática Chloe Zhao, a grande homenageada da noite.

A cineasta nascida na China ganhou dois dos prêmios mais importantes: melhor diretora e melhor filme, com "Nomadland". Essa é a segunda vez em 78 anos que uma mulher vence na categoria. A primeira foi Barbra Streisand, em 1984, por "Yentl".

Na categoria melhor musical ou comédia, quem levou o prêmio foi "Borat: Fita de Cinema Seguinte". Sacha Baron Cohen, que interpreta o personagem principal, também ganhou o troféu de melhor ator de comédia pelo mesmo longa. "The Crown", que conta a história da família real britânica, foi quem mais levou troféus, como melhor série dramática e três prêmios de atuação.

Um dos momentos mais emocionantes da noite foi quando Chadwick Boseman - que morreu no ano passado aos 43 anos - foi anunciado como o vencedor na categoria de melhor ator de drama por "A Voz Suprema do Blues".

A esposa dele, Simone Ledward Boseman, fez um discurso emocionado. Ela disse que Chadwick, se estivesse vivo, "agradeceria a Deus, a seus pais e a seus ancestrais por sua orientação e seus sacrifícios. Chadwick fez "A Voz Suprema do Blues" nos momentos finais de vida, já bem doente. Ninguém sabia que ele lutava há quatro anos contra um câncer de cólon.

Diversidade

A diversidade foi a marca da noite. Além de Zhao e Chadwick, uma atriz e outros dois negros também levaram prêmios. O troféu de melhor atriz dramática foi para Andra Day, em "The United States vs. Billie Holiday". A estatueta de melhor ator coadjuvante foi para Daniel Kaluuya, em "Judas and the Black Messiah" e John Boyega, recebeu o Globo de Ouro de melhor ator coadjuvante pela série "Small Axe".

Alguns dos principais filmes da temporada, "Uma noite em Miami", "A Voz Suprema do Blues", "Destacamento Blood" e "Judas and the Black Messiah", com elencos majoritariamente negros, foram esquecidos da categoria de melhor longa. A atriz Jane Fonda, que ganhou uma grande homenagem pela carreira em seu discurso, também pediu mais diversidade.

Falta de representatividade

Dias antes da premiação, o jornal Los Angeles Times fez uma matéria criticando o Globo de Ouro, especialmente pela falta de negras e negros no júri. A reportagem trouxe a denúncia de corrupção e falta de representatividade de minorias no evento.

Quem vota no Globo de Ouro são 87 jornalistas brancos, que fazem parte da Associação de Imprensa Estrangeira em Hollywood (HFPA). Não há nenhum negro na associação e há um grande protecionismo entre os membros, que não dão muito espaço para a entrada de novos jornalistas.

Os profissionais que integram a associação são na maioria mais velhos e em muitos casos nem trabalham mais em veículos de imprensa. 65% deles vêm de países Europeus. O Brasil tem duas representantes. A título de comparação, quase 10 mil pessoas da indústria cinematográfica votam no Oscar.

Esses 87 jornalistas sempre são convidados para os lançamentos, visitas de set de filmagens e, ao contrário de outros profissionais que cobrem cinema e também participam desses eventos de divulgação, os associados têm muito mais privilégios com festas particulares, regalias, presentes e entrevistas mais longas e exclusivas com as estrelas.

Neste ano, segundo a denúncia do LA Times, 30 membros participaram de uma viagem luxuosa para França para cobrirem a divulgação da série "Emily em Paris", indicada em duas categorias, o que levantou desconfiança dos especialistas. Esse é apenas um exemplo apontado pela reportagem, que mostra a falta de representatividade do evento, que arrecada cerca de US$ 60 milhões.

Resposta da associação não convenceu

Durante a premiação dessa noite, as apresentadoras fizeram várias brincadeiras sobre a falta de diversidade. A própria associação fez um discurso de poucos segundos, duramente criticado nas redes sociais, e na última quinta-feira (25) divulgou um comunicado que não convenceu.

"Estamos totalmente comprometidos em garantir que nossa associação reflita as comunidades em todo o mundo que amam o cinema, a TV e os artistas que os inspiram e educam. Entendemos que nós precisamos trazer membros negros, bem como membros de outras origens sub-representadas, e vamos trabalhar imediatamente para implementar um plano de ação para atingir esses objetivos o mais rápido possível", disse o texto oficial.

A advogada Tina Tchen, que está a frente do movimento feminista Time's UP, declarou que a resposta da associação foi uma mera formalidade. Segundo ela, a ausência de representatividade negra é apenas um dos sintomas de um problema estrutural muito maior e a resposta indica uma falta de compreensão da profundidade das questões. Ela também solicitou uma reforma urgente, já que o Globo de Ouro é considerado uma das principais premiações do setor e serve de termômetro para o Oscar.