Topo

Uigures: China interna crianças em "campos de órfãos", denuncia Anistia Internacional

19/03/2021 16h12

Um novo relatório da Amnistia Internacional denuncia as violações sofridas pelas famílias uigur no exílio, separadas dos seus filhos que permaneceram em Xinjiang. A ONG coletou testemunhos de seis famílias uigures que fugiram para a Austrália, Canadá, Itália, Holanda e Turquia. Todos falam do sofrimento da separação dos filhos, às vezes menores de cinco anos, e internados em "campos para órfãos".

Em um novo relatório publicado na quinta-feira (18), a ONG Anistia Internacional pediu à China que liberte todas as crianças uigures mantidas em orfanatos públicos sem o consentimento de suas famílias.

Devido às dificuldades dos trabalhadores humanitários em obter acesso à região de Xinjiang, a Anistia só conseguiu entrar em contato com membros da comunidade uigur que foram forçados a deixar a custódia de seus filhos para seus parentes após fugirem do país, quando a repressão começou a intensificar contra esta minoria muçulmana, de língua turca, a partir de 2017.

A ONG aponta o caso de Mihriban Kader e Ablikim Memtinin, forçados a fugir para a Itália em 2016 para escapar do assédio policial. Eles deixaram os quatro filhos com os pais, mas a avó foi enviada para um campo de detenção enquanto o marido era interrogado pela polícia.

"Nossos outros parentes não ousaram cuidar de nossos filhos depois do que aconteceu com meus pais", disse Mirhiban Kader em depoimento no site da BBC. Eles ficaram com medo de serem mandados para os campos, por sua vez ". Em novembro de 2019, ela e o marido receberam autorização do governo italiano para que os filhos se juntassem a eles, mas estes foram apanhados pela polícia no caminho e enviados para um orfanato.

Violação dos direitos da criança

Esta é uma violação inadmissível dos direitos da criança, sublinha Cécile Coudriou, presidente da Anistia Internacional França, em entrevista à RFI. "Os pais se encontram em um dilema absolutamente terrível, exilados porque são vítimas da perseguição em Xinjiang como uigures", lamenta ela. "Eles deram seus filhos a parentes, mas infelizmente esses pais também estão no centro de detenção. As crianças devem ser capazes de se juntar a eles. No entanto, não é o caso", completou.

"O que este relatório destaca é um tipo particular de violação dos direitos humanos, que consiste em impedir voluntariamente o reagrupamento de famílias, o que é contrário à Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança", continua Cécile Coudriou.

"Eles são enviados à força para orfanatos, que são campos de reeducação, onde tentam fazê-los esquecer sua cultura uigur. Estão então reunidas todas as condições para que a comunidade internacional se pronuncie contra a China e a obrigue a abandonar esta estratégia de negação", destaca. "Esta violação adicional que destacamos em nosso relatório com relação às crianças é inaceitável, portanto a comunidade internacional deve a todo custo exercer pressão máxima sobre a China para permitir que uma investigação imparcial e independente aconteça neste país", conclui Coudriou.

De acordo com um estudo publicado nos Estados Unidos em dezembro de 2020, mais de 500.000 pessoas de minorias étnicas chinesas, incluindo uigures, são empregadas à força nas plantações de algodão chinesas, e mais de um milhão estão presas em "campos de recuperação". A China nega essas acusações e e afirma que os trata-se de campos de "reeducação" destinados a "combater o terrorismo".