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Sem vagas nas UTIs, hospitais de Paris se preparam para triagem de pacientes

Os hospitais franceses recebem cada vez mais pacientes de covid-19 nas UTIs - Jean-Francois Badias/AP
Os hospitais franceses recebem cada vez mais pacientes de covid-19 nas UTIs Imagem: Jean-Francois Badias/AP

28/03/2021 07h00

Médicos que coordenam as células de crise dos hospitais parisienses publicaram um texto neste domingo (28), no Journal du Dimanche, onde afirmam que se preparam para fazer uma triagem dos pacientes diante da grave situação epidêmica na capital francesa e seus arredores.

Apesar das novas medidas de restrição adotadas em 19 regiões, a França registrou neste sábado (28) um novo aumento de pacientes internados nas unidades de terapia intensiva (UTIs) dos estabelecimentos, que contam agora com 4.791 doentes - o número mais alto registrado desde o início do ano.

O rápido avanço das contaminações se explica pela predominância da cepa britânica, mais contagiosa e mortal, e que atinge pacientes mais jovens, que permanecem mais tempo hospitalizados.

"Nos próximos quinze dias, como as contaminações já ocorreram, podemos antecipar o número de leitos que serão necessários em unidades de terapia. Sabemos, desde já, que nossa capacidade será insuficiente", escrevem 41 médicos que atuam nos Pronto-Socorros e UTIs de Paris.

"Nessa situação de 'Medicina de catástrofe', onde há uma discordância flagrante entre as necessidades e os recursos disponíveis, seremos obrigados a fazer uma triagem dos pacientes, para salvar o maior número de vidas possível", salientam.

Essa triagem, alertam, envolverá todos os pacientes, inclusive aqueles que não são positivos para a Covid-19. Nesses casos, os doentes com maiores chances de sobreviver à intubação, por exemplo, são privilegiados.

"Nunca enfentamos uma situação dessas, mesmo durante os piores atentados dos últimos anos", declaram os urgentistas encarregados da gestão da crise sanitária. "Não podemos continuar em silêncio sem trair o juramento de Hipócrates que fizemos um dia", completam.

No Twitter, diversos profissionais franceses, sob pseudônimo, revelam a difícil situação nos estabelecimentos e a incompreensão diante de medidas que eles julgam insuficientes para frear o vírus.

Medidas mais restritivas

O governo francês optou, por hora, por medidas de lockdown regionais e parciais para frear a epidemia, mas as restrições não controlam a circulação do vírus. A taxa global de incidência na França, dos últimos dias, é de cerca de 350 diagnósticos positivos para 100.000 pessoas. Em Paris, ela é superior a 630.

Epidemiologistas alertaram para o risco da terceira desde janeiro, caso o país não adotasse um lockdown mais rígido, com escolas, empresas e lojas fechadas, como em março de 2020. Mas o governo francês preferiu adotar a estratégia de "viver com o vírus."

O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu, em uma entrevista publicada neste domingo (28) sua decisão de não trancar o país. Mas, ao mesmo tempo, nunca conseguiu atingir sua meta, desde a segunda onda, em outubro, de limitar as infecções a cerca de 5.000 casos diários.

Segundo Macron, apesar da gravidade da situação, nenhuma decisão sobre um novo lockdown total foi tomada.

Um Conselho de Defesa previsto para quarta-feira (31) discutirá a possibilidade de novas medidas, como o fechamento das escolas, que vem sendo defendido por associações de professores e pais diante do aumento da incidência nos estabelecimentos. "Vamos observar, nos próximos dias, a eficácia das medidas e tomaremos as decisões necessárias. Mas, por enquanto, nada foi decidido", frisou Macron.

A França aposta na vacinação e garante que poderá imunizar cerca de 30 milhões de franceses até o final de junho, e o restante da população até setembro, quando termina o verão no hemisfério norte.

(RFI e AFP)