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Covid: Variante de Minas mistura características das cepas P1, P2, do Reino Unido e da África do Sul

08/04/2021 13h42

Virologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Renato Santana participou do estudo que identificou nova forma do vírus em Belo Horizonte e diz que essas mudanças apontam para casos mais graves e letais do coronavírus.

Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília

"Antes a gente falava que as variantes estavam relacionadas ao aumento da transmissão. Mas hoje a gente já vê que algumas delas estão sim ligadas ao aumento da letalidade. Isso foi mostrado por pesquisas no Reino Unido. E a variante de Manaus compartilha características com essa do Reino Unido. A variante nova identificada aqui também. Então a gente tem que ficar muito preocupado com esse crescente número de casos severos que estamos vendo em vários hospitais brasileiros. Casos que devem ter ligação com essas novas variantes em circulação", disse o professor. 

O surgimento de variantes é um processo natural do vírus, mas mostra o desafio sanitário em meio a uma pandemia que já matou mais de 300 mil brasileiros. "A grande maioria das vacinas testadas induzem à produção de anticorpos neutralizados contra as variantes já identificadas. A P1, de Manaus, e a da África do Sul têm uma modificação numa região que reduz um pouco a resposta, mas isso não é significativo. Então as vacinas até agora continuam eficazes contra as mutações. Mas a variante P1, que já se espalhou pelo Brasil, bem como essa nova variante que identificamos em Belo Horizonte, têm uma mutação numa posição compartilhada com a do Reino Unido. E na Inglaterra se mostrou que as pessoas infectadas com essa nova versão tinham 60% a mais de risco de morte. Isso é considerável!"

O especialista diz que em tese as vacinas continuam eficazes, mas que o processo de imunização a conta-gotas é um ingrediente importante para que novas mutações do coronavírus ganhem força. "Essa vacinação lenta acaba infelizmente acelerando o aparecimento de novas variantes. É como se o vírus estivesse sendo treinado: aparece uma mutação, vacinação baixa, a mutação que consegue se sobrepor à vacina vai emergir. Dessa forma o isolamento social é crucial hoje. Precisamos estimular o isolamento porque o material para o vírus circular somos nós."

Santana faz parte de uma rede nacional de pesquisadores que desde o início da pandemia ajuda a mapear o genoma do vírus em circulação no país. A estrutura não é a mesma existente no Reino Unido, país de ponta nessa questão, mas importante para identificar novas formas do SarsCov2 em solo brasileiro. A equipe do virologista mostrou que 40% das contaminações na capital mineira já são provocadas pela variante de Manaus. E nesse estudo eles também localizaram a nova variação, encontrada em duas pessoas que não têm vínculo algum entre si.

"São duas pessoas que não se conheciam. Não se trata de uma pessoa que passou para um parente. Foram dois genomas iguais e novos num total de 85 amostras analisadas, o que dá entre 2% e 3% de frequência, o que não é negligenciável. Então a gente conseguiu identificar uma variante que está começando a surgir por aqui."