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Genocídio em Ruanda: novo relatório encomendado por Kigali examina papel da França

19/04/2021 12h59

Ruanda torna público nesta segunda-feira (19) seu próprio relatório sobre a participação da França em Ruanda antes, durante e depois do genocídio contra os tutsis. O documento é anunciado três semanas após a publicação, na França, do relatório Duclert sobre o mesmo assunto. Embora o relatório francês tenha sido confiado a historiadores, a investigação ruandesa foi conduzida por um escritório de advocacia norte-americano.

Laure Broulard, correspondente da RFI em Kigali

A nova investigação foi encomendada pelo governo de Ruanda em 2017, dois anos antes de o presidente francês, Emmanuel Macron, lançar a comissão Duclert, e foi realizada pela empresa norte-americana Levy Firestone Muse, com sede em Washington. A comissão francesa concluiu recentemente que a França tinha responsabilidades pesadas e avassaladoras no genocídio dos tutsis, embora descartasse a ideia de "cumplicidade" no genocídio.

O relatório de Ruanda é complementar ao relatório da França. Ele não o contradiz, assegurou recentemente à RFI Vincent Biruta, Ministro das Relações Exteriores de Ruanda. O documento já descartava a ideia da participação ativa da França no genocídio e, portanto, de seu possível envolvimento no sentido jurídico.

No final de 2017, a Levy Firestone Muse publicou um pré-relatório relativo ao genocídio de Ruanda. Os advogados destacaram que a França estava ciente dos massacres perpetrados contra os tutsis na década de 1990 e que, apesar disso, continuou a apoiar as autoridades ruandesas.

Eles também acusaram as autoridades francesas de obstruir a justiça no julgamento de genocidas, depois de 1994. Se este primeiro documento foi baseado principalmente em dados públicos, o relatório publicado nesta segunda-feira também compila intercâmbios diplomáticos e centenas de depoimentos.

Envolvimento de Mitterand

O relatório da comissão Duclert, publicado no final de março, destaca em particular a pesada responsabilidade do Estado-Maior de François Mitterrand, chefiado pelo General Christian Quesnot, e seu vice-coronel (agora General) Jean-Pierre Huchon.

"O PGA tem uma responsabilidade muito importante na instauração de uma hostilidade geral do Eliseu contra a RPF", assinala o relatório, que denuncia "as práticas irregulares" deste organismo, que contornam todos os canais regulares para implementar a política francesa no terreno.

Com a aprovação tácita do então presidente francês: "nenhum documento mostra a vontade do chefe de Estado em sancionar esses militares ou mantê-los em suas iniciativas", aponta o relatório.

A chegada em 1993 de um governo de direita na França não mudou a situação, apesar dos confrontos às vezes "implacáveis" entre o Eliseu e o governo do primeiro-ministro, Edouard Balladur, muito menos inclinado ao engajamento francês em Ruanda.