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Com hospitais em colapso, Índia supera 20 milhões de casos de coronavírus

Paciente com covid-19 recebe oxigênio em um carro em um templo em Ghaziabad, Índia - Danish Siddiqui/Reuters
Paciente com covid-19 recebe oxigênio em um carro em um templo em Ghaziabad, Índia Imagem: Danish Siddiqui/Reuters

04/05/2021 11h32

A Índia superou hoje a marca de 20 milhões de casos de covid-19. O cenário no país é cada vez mais preocupante, com o sistema de saúde asfixiado pela imensa quantidade de doentes.

As autoridades sanitárias indianas registraram 357.229 novos casos e 3.449 mortes nas últimas 24 horas. Com os novos números, o balanço total é de 20,3 milhões de contaminados e 222.408 óbitos, segundo o ministério da Saúde.

A Índia sofre com uma segunda onda da Covid-19 devido a uma nova variante do vírus. O fenômeno é atribuído, por especialistas, aos recentes encontros religiosos de massa e à inércia do governo do primeiro-ministro nacionalista Narendra Modi.

Em poucas semanas, os hospitais entraram em colapso, com falta de oxigênio, remédios e leitos. Nos últimos dias, a comunidade internacional vem se organizando para ajudar o país. Na última terça-feira (27), o primeiro carregamento de suprimentos médicos, enviado pelo Reino Unido, chegou a Nova Délhi.

"Trabalhamos muito duro, mas não podemos salvar todos", disse Swadha Prasad, de 17 anos, que trabalha como voluntário na capital indiana verificando a disponibilidade de leitos e remédios, além de atender ligações de pessoas desesperadas em busca de ajuda para os familiares.

Oxigênio virou ouro

Encontrar oxigênio, medicamentos e vagas em hospitais se tornou uma verdadeira caça ao tesouro. Por conta própria, jovens indianos criam aplicativos para buscar ajuda e entregar suprimentos essenciais aos mais necessitados.

Swadha Prasad trabalha com dezenas de voluntários com idades entre 14 e 19 anos, na organização juvenil Uncut. Eles construíram um banco de dados online com informações sobre recursos médicos disponíveis em todo o país.

Para isso, trabalham 24 horas por dia, sete dias por semana. Os jovens passam o tempo atentos a seus telefones enquanto verificam a disponibilidade de produtos de primeira necessidade, atualizam informações em tempo real e atendem ligações de familiares preocupados.

"Alguns de nós trabalham à noite porque as ligações não param", diz a garota de 17 anos, que trabalha 14 horas por dia, do meio-dia à madrugada. Muitas vezes, a jornada é longa e exaustiva, afirma a estudante de Mumbai, mas "se posso ajudar a salvar uma vida, nenhuma parte de mim vai dizer não".

Segundo ela, muitas vidas foram salvas. Ela lembra que em uma ocasião a equipe conseguiu obter oxigênio no meio da noite para um jovem paciente de 19 anos, que esperava há duas horas agonizando. "Não se trata apenas de fornecer recursos. Às vezes as pessoas precisam saber que não estão sozinhas", declara.

O "homem do oxigênio"

Com dois terços de seus 1,3 bilhão de habitantes com menos de 35 anos, a Índia é um país predominantemente jovem. À medida em que a pandemia se agravou - com crematórios sem espaço e pacientes morrendo nos estacionamentos dos hospitais - muitos deles se ofereceram como voluntários.

Na periferia de Mumbai, Shanawaz Shaikh forneceu oxigênio a milhares de pessoas. Popularmente conhecido como o "homem do oxigênio", o indiano de 32 anos vendeu seu carro em junho do ano passado para financiar a iniciativa depois que a prima grávida de um amigo faleceu esperando ser internada em um hospital.

Shaikh nunca imaginou que, um ano depois, continuaria atendendo a tantos pedidos. "No ano passado recebíamos cerca de 40 ligações por dia, este ano são mais de 500", estima.

O engenheiro de computação Umang Galaiya, de 25 anos, criou um aplicativo para ajudar na busca de leitos e medicamentos em tempo real. O objetivo, segundo ele, é evitar o esforço de milhares de pacientes de ir de hospital em hospital em busca de uma vaga.

Apesar do esforço, ele diz estar ciente que é improvável que seu aplicativo ajude pessoas fora das grandes cidades. Segundo o jovem, as limitações tecnológicas estão surgindo à medida que o vírus se espalha por pequenas localidades e vilarejos. "Trabalhamos muito, mas não podemos salvar a todos", afirma.

(Com informações da AFP)