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Perfume mais famoso do mundo e com uma pitada de Brasil em sua história, Chanel n°5 completa 100 anos

05/05/2021 19h27

Essa quarta-feira (5) marca o centenário do Chanel n° 5, um perfume que, cem anos após sua criação, continua sendo um dos mais famosos do mundo. A fragrância, que transformou a história da perfumaria, contou em sua trajetória com um pedacinho do Brasil.

Sempre que se fala do n°5, a famosa frase de Marilyn Monroe vem à tona. A estrela do cinema, que disse durante uma entrevista em 1952 que a única coisa que "vestia" para dormir eram algumas gotas do perfume criado por Gabrielle Chanel em 1921, contribuiu para a fama internacional da fragrância. No entanto, a história desse produto emblemático vai bem além desse clichê, explorado de forma interminável - inclusive na retrospectiva da marca, em cartaz em 2020 no Museu Galliera, em Paris, que usou a declaração de Monroe como fundo sonoro em uma das salas.

O n° 5 ficou famoso antes de mais nada pela audácia de Gabrielle Chanel ao lançá-lo. Além de se tornar a primeira mulher à frente de uma maison de alta-costura a criar um perfume com seu próprio nome, Coco foi a pioneira ao propor um produto que também levava substâncias sintéticas em sua fórmula, uma inovação que contribuía para a duração da fragrância após o contato com a pele. Até então, os perfumes eram compostos a partir de substâncias naturais, que evaporavam rapidamente.

Além desse aspecto técnico, a composição do n°5 contou durante muito tempo com o linalol natural, componente extraído do pau-rosa, uma espécie da flora amazônica em extinção. Uma ponta de exotismo que orgulha os brasileiros initiés, mas cuja presença na composição atual do n°5 é um mistério, já que que o Ibama proibiu, desde os anos 1990, a extração do pau-rosa, e apenas algumas marcas de perfumaria de nicho ainda usam essa matéria-prima natural, preferindo substitutos sintéticos, menos onerosos e mais abundantes. Mas como no mundo do luxo o mistério é uma das virtudes, a presença ou não do ingrediente da Amazônia apenas contribui para a construção do mito.

A composição do n° 5 evoluiu, se adaptando levemente aos gostos contemporâneos. Mas sua fórmula principal foi mantida, com uma mistura complexa, que vai de Bergamota a Ylang Ylang, passando por Íris, Jasmim, Rosa, ou ainda Âmbar, Sândalo, Almíscar. Uma alquimia que faz com que nenhuma nota seja claramente identificável.

Famoso, mas não o mais vendido

Alguns dizem que sua fragrância saiu de moda. Aliás, apesar de sua fama, há anos o n°5 deixou de ser o perfume mais vendido no mercado. Concorrentes como Angel, de Thierry Mugler, ficaram anos no topo de ranking, substituídos por 1 Million, de Paco Rabanne, que durante cinco anos foi o mais vendido na França, antes de dividir os holofotes com La Vie est Belle.

A fragrância da Lancôme deve parte de seu sucesso à presença de Julia Roberts como protagonista da campanha publicitária. Uma estratégia de celebridade que a própria Chanel conhece bem, já que durante toda a história do n°5, grandes nomes do cinema emprestaram sua beleza à fragrância de Coco, muito além de Marilyn, de Catherine Deneuve a Marion Cotillard, que estrela a campanha do centenário do perfume. Sem esquecer Nicole Kidman, em 2004, com o filme publicitário mais caro da história na época, no qual a protagonista de Moulin Rouge dividia a cena com Rodrigo Santoro, cruzando mais uma vez a história do n°5 com o Brasil. Uma "parceria tropical" repetida na campanha de 2014, quando Gisele Bündchen trouxe um pouco mais de modernidade aos filmes do emblemático perfume.

Embalagem icônica

Várias lendas também circulam sobre a escolha do nome do produto. Há quem diga que 5 era o número fetiche da estilista, enquanto outros afirmam que, durante o processo de criação, entre as diferentes amostras propostas por Ernest Beaux, conhecido como "o perfumista dos tzars" e que elaborou a fragrância, a preferida de Coco era a quinta da lista. Uma explicação simples, como vários detalhes que cercam esse produto. Simplicidade que não surpreendeu os fãs da Gabrielle Chanel, estilista que preferia os vestidinhos pretos sem frescuras - mas enfeitados com muitos badulaques - aos modelos complicados propostos por seus contemporâneos.

A embalagem do n°5 é um bom exemplo desse apego a uma forma de minimalismo. Se no início seus ares de frasco de laboratório provocavam estranhamento, aos poucos esse aspecto foi o que fez a diferença. Suas linhas puras viraram rapidamente sinônimo de inovação e a embalagem de vidro polido entrou em 1959 para o acervo com Moma, em Nova York, foi imortalizada em uma das obras de Andy Warhol e até ganhou exposição em Paris.

O frasco, aliás, destoa apenas graças à tampa em forma de diamante. Para alguns, trata-se de um detalhe puramente estético, mas que a marca apresenta hoje como uma verdadeira homenagem à praça Vendôme, endereço das grandes joalherias parisienses e também da própria Gabrielle, que viveu no hotel Ritz até sua morte. Verdade ou storytelling, só Coco saberia dizer.