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Jovens têm que mostrar o próprio sangue para provar que estão menstruadas na Malásia

11/05/2021 17h14

As jovens da Malásia começaram a denunciar nas redes sociais o chamado "period spot check", prática que consiste em verificar se uma mulher está realmente menstruada e que, por essa razão, não pode frequentar as sessões de preces muçulmanas ou aulas de educação física. Em algumas escolas do país, as meninas têm que provar publicamente, mostrando o próprio sangue, que não estão aptas a participar dessas atividades por razões religiosas ou fisiológicas. Os casos abriram a porta para vários protestos contra o sexismo, mas também contra a banalização do estupro. 

Gabrielle Maréchaux, correspondente da RFI em Kuala Lumpur

Segundo o Islã, religião oficial e majoritária na Malásia, uma mulher não pode participar das preces coletivas quando está menstruada. As meninas também são isentas das aulas de Educação Física durante esse período do mês. No entanto, nem sempre elas são levadas a sério e, em alguns casos, devem se justificar se quiserem se ausentar dessas atividades.

Os relatos desse tipo de prática não são recentes, mas se multiplicaram nos últimos meses graças às redes sociais locais, onde é possível ler testemunhos, vindos de várias partes do país, seja de pensionatos públicos ou escolas privadas, de meninas que tiveram que mostrar o sangue em um lenço, um cotonete ou até mesmo nos dedos. Algumas vezes os próprios funcionários dos colégios se certificam que as jovens estão usando um absorvente íntimo, como "prova" de que estariam menstruadas.

Histórias desse tipo começaram a circular nas redes e rapidamente a expressão "period spot check", que poderia ser traduzida como "controle de menstruação", viralizou. Segundo o Google Trends, o termo nunca tinha sido usado no site de buscas na Malásia antes de abril de 2021.

Diante do fenômeno, a imprensa local se interessou pelo assunto e vários jornais e sites começaram a fazer reportagens sobre o tema. Do lado do governo, após um momento de silêncio total, o ministro da Educação, Mohd Radzi Md Jidin, se pronunciou no final de abril, afirmando que nenhuma escola do país admitiu ter praticado esse tipo de controle em suas estudantes. "Se isso aconteceu, diga-me o nome da escola e algo será feito", declarou.

Em resposta, logo em seguida o jornal independente Malaysiakini divulgou uma lista, em inglês, dos estabelecimentos de ensino onde os casos de "period spot check" foram registrados. As denúncias estão sendo investigadas pelo Ministério.

Banalização do estupro

Desde que os casos de "censura da menstruação" viralizaram nas redes, outros movimentos de protesto contra atitudes considerados sexistas emergiram na Malásia. Principalmente em torno da banalização do estupro.

O debate foi levantado após Ain Husniza Saiful Nizam, uma aluna de 17 anos, ter feito uma postagem no TikTok no qual criticava um de seus professores. No vídeo, ela conta como a questão das violências sexuais foi abordada, em tom de chacota, na sala de aula.

"O professor começou fazendo algumas piadas banais, mas foi ficando cada vez mais obsceno. Ele dizia que havia leis para proteger os menores das agressões sexuais e dos estupros, antes de sugerir: 'se você quiser estuprar alguém, escolha um adulto, e não um menor de idade'", relatou a jovem no vídeo, que também viralizou.

Apesar de ter recebido o apoio de associações, além da promessa do ministério da Educação de que o caso seria investigado, Ain Husniza foi alvo de críticas de seus colegas, que a acusam de manchar a imagem da escola. O diretor do estabelecimento postou nas redes mensagens nas quais chama a adolescente de "filha do demônio". A jovem sofreu até ameaças de estupro e teme por sua segurança.