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EUA: Plano Biden de recuperação econômica dá sua primeira desacelerada em abril

14/05/2021 16h42

O consumo nos Estados Unidos parece ter colocado o pé no freio após a euforia promovida pelos cheques do plano de estímulo à economia e o avanço acelerado da campanha de vacinação. Os consumidores começam a se preocupar com a alta dos preços, dando à oposição mais um argumento contra os investimentos lançados pelo presidente americano, Joe Biden.

As vendas no varejo estagnaram em abril em comparação a março, mês em que os gastos saltaram 10,7%, graças aos cheques pagos pelo governo federal, de acordo com os dados divulgados nesta sexta-feira (14) pelo Departamento de Comércio.

Os americanos compraram mais carros, mas menos roupas. Muitos deles ainda estão em teletrabalho, pelo menos durante parte da semana, o que os distancia dos centros das cidades e aumenta a dependência em relação aos carros para se deslocarem.

"Não se enganem, um consumo mais forte está chegando, já que as famílias americanas têm os meios e a motivação para gastar livremente", avalia Lydia Boussour, analista da Oxford Economics, estabelecendo para o resultado anual um "aumento recorde de 9,6% nos gastos", o que seria "o melhor desempenho desde 1946".

"Os gastos serão transferidos para os serviços" em maio, acrescenta Boussour, quando os restaurantes e outras atividades de lazer começarem a crescer a todo vapor. "As pessoas, cansadas de ficarem presas, começarão a gastar em shows ao ar livre, eventos esportivos e viagens aéreas", acredita Yelena Maleyev, economista da Grant Thornton.

Preocupações do consumidor

O fato é que a recuperação econômica já deu sua largada nos Estados Unidos, e a atividade é retomada com mais de um terço da população totalmente vacinada, podendo inclusive, desde quinta-feira (13), retirar suas máscaras, mesmo em algumas atividades em ambientes fechados.

Paradoxalmente, a confiança do consumidor piorou em maio, após atingir em abril seu nível mais alto desde o início da crise. O índice está em 82,8 pontos, contra 88,3 pontos no mês passado, de acordo com a estimativa preliminar da pesquisa da Universidade de Michigan divulgada nesta sexta-feira.

Na verdade, os americanos agora estão preocupados com os preços que começaram a subir. Isso deve durar pelo menos alguns meses, visto que os salários não necessariamente acompanham este movimento. "As expectativas em termos de receita são as menores em cinco anos", afirma Richard Curtin, o economista responsável pela pesquisa.

No entanto, ele considera que "o gasto do consumidor continuará crescendo (...) devido à demanda reprimida (durante a pandemia) e ao nível recorde de poupança". "Essa combinação (...) cria uma situação favorável a uma psicologia inflacionária, favorecendo motivos para comprar antecipadamente (antes que os preços não aumentem ainda mais) e um aumento no custo de vida dos assalariados", alerta o economista.

Argumento para Republicanos

A inflação começou a acelerar nos Estados Unidos impulsionada por uma combinação de fatores, como gargalos na produção e na entrega global. Muitas empresas alertaram que aumentarão seus preços para compensar alguns desses custos adicionais. Mas muitos economistas acreditam que a inflação retornará aos níveis normais até o final do ano.

O Banco Central Americano (Fed) estima que ainda não é hora de apertar sua política monetária para desacelerar a alta dos preços, pois isso poderia prejudicar a recuperação econômica e, principalmente, penalizar os mais vulneráveis, que ainda não tomaram vantagem disso.

O presidente Joe Biden tem dois planos gigantescos de investimento, totalizando quase US$ 4 trilhões em 10 anos, para criar empregos e permitir uma recuperação sustentável. A oposição republicana deve argumentar que esses investimentos podem superaquecer uma economia já recuperada, mas o governo Biden deve destacar os 8 milhões de empregos que ainda faltam, após o número muito decepcionante de criação de empregos em abril.

Apesar da alta taxa de desemprego, as empresas devem oferecer salários mais altos para atrair e reter funcionários, que nem sempre estão prontos para voltar ao trabalho. Ainda há temores sobre a Covid-19 e as questões com as crianças, se as escolas não estiveram totalmente reabertas. E os generosos auxílios desempregos motivam muitas pessoas a se darem mais tempo antes de voltarem ao trabalho.

(Com informações de agências)