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França está bem posicionada na corrida quântica global, aponta Challenges

14/05/2021 13h05

A revista semanal Challenges dedica sua reportagem de capa à segunda revolução tecnológica quântica. Toda a eletrônica atual, explica a publicação, provém da mecânica quântica, surgida no início do século 20: o laser, os microprocessadores, os discos duros dos computadores, o GPS, os cabos USB e telefones celulares. A próxima etapa, possibilitada pela compreensão e o controle de sistemas quânticos individuais, irá transformar nossa existência e é objeto de uma corrida global.

Novas aplicações revolucionárias, descobertas a partir dos anos 1990, permitirão a construção de computadores quânticos 1 milhão de vezes mais poderosos do que os supercalculadores atuais. O teletransporte quântico, que possibilita a transmissão de informações entre elétrons a longa distância, assim como partículas individuais da luz (fótons), executará o tráfico de informações sem passar por um suporte físico, situação ideal para manter as conversas invioláveis. Já a manipulação de partículas individuais de tamanho inferior ao átomo permitirá à indústria alcançar uma nova escala de fabricação, graças a sensores e instrumentos de medida de uma precisão nunca vista. 

Na área da biotecnologia, a estrutura de uma molécula complexa poderá ser decifrada, bem como a posição dos átomos que a compõem, facilitando a descoberta de novos medicamentos e materiais, detalha a Challenges. "Com o teletransporte quântico, ainda mais modesto do que se vê na série Star Trek, mas bem real, uma mensagem não será transmitida por meio das ondas, mas por um sistema indetectável", celebra a revista.

Compreender e controlar partículas infinitamente pequenas equivale a ter poder sobre as telecomunicações, a defesa, a saúde. E as grandes potências já se lançaram neste desafio. Atualmente, 14 países concentram seus centros de pesquisa mais avançados nessa revolução quântica. Estados Unidos e Canadá, na América do Norte; China, Índia, Japão, Rússia, Israel e Austrália; na Europa, França, Alemanha, Áustria, Holanda, Itália e Suíça. 

Corrida geoestratégica

Em investimentos, a China é campeã, com US$ 10 bilhões anunciados desde 2017 para a construção de um laboratório de informática quântica. Os Estados Unidos, que largaram atrás dos chineses, nomearam Anne Neueberger, ex-funcionária da agência de segurança NSA, para cuidar da área de tecnologias emergentes, principalmente o desenvolvimento de um sistema de criptografia baseado na informática quântica, impenetrável. 

A Comissão Europeia vai mobilizar € 1 bilhão no programa Quantum Flagship, enquanto a França anunciou em janeiro € 1,8 bilhão de investimentos em cinco anos. A revista Challenges observa, no entanto, que, nesta corrida tecnológica, o dinheiro não é tudo. Dependendo da pista científica selecionada, as pesquisas podem evoluir na direção do rumo certo ou se revelarem um impasse.

Na França, o coordenador de estratégia quântica do governo, Neil Abroug, diz que o país é um dos raros atores, ao lado dos Estados Unidos, da Austrália e da Holanda, que poderá ser bem-sucedido na construção de um computador quântico.