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Separatistas entram em acordo e retomam coalizão de governo na Catalunha

17/05/2021 15h16

Os dois principais partidos separatistas da Catalunha concordaram na retomada da coalizão de governo regional, evitando, assim, novas eleições. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (17) pelo provável futuro presidente catalão, Pere Aragonés, do ERC (Esquerda Republicana).
 

O pacto entre o Esquerda Republicana (ERC) e o Juntos pela Catalunha (JXC) acontece dez dias após o prazo que obrigaria a região a organizar novas eleições. No último pleito, ocorrido em 14 de fevereiro, os separatistas obtiveram 74 dos 135 assentos e 52% dos votos. "Superamos as dificuldades e conseguimos nos entender para evitar uma repetição eleitoral que ninguém queria", disse Aragonès.

O acordo prevê a reedição da coligação governamental iniciada em 2015 entre as duas formações mas, desta vez, o grupo será liderado pelo ERC. Com um discurso mais moderado e baseado no diálogo com Madri, o partido surgiu, pela primeira vez, como a força pró-independência mais votada. Com 33 e 32 assentos, respectivamente, o governo de coalizão entre ERC e JXC também terá de contar com o apoio dos nove deputados do partido de extrema esquerda da independência CUP.

Discrepâncias separatistas

O pacto, que deve ser ratificado pelos militantes do JXC, surge após fortes divergências entre o ERC e a formação comandada na Bélgica por Carles Puigdemont, o líder catalão durante a fracassada secessão de 2017.

No final de março, a falta de consenso provocou o fracasso da primeira tentativa de dar posse a Pere Aragonés no Parlamento regional.

No início de maio, o jurista de 38 anos com fama de moderado anunciou que desistia de reeditar a coalizão com o JXC para tentar formar um governo solitário e claramente minoritário.

Como explicou, o principal obstáculo foram as diferenças estratégicas sobre qual caminho o movimento de independência deveria seguir, após o fracasso da ruptura unilateral de 2017. A rebelião culminou na condenação de vários líderes, e muitos fugiram para o exterior.

Principal força da independência até as últimas eleições, o JXC desconfia da estratégia de buscar uma solução negociada com o governo espanhol do socialista Pedro Sánchez.

Na última legislatura presidida pelo herdeiro político de Puigdemont, Quim Torra (2018-2020), essas discrepâncias causaram múltiplos conflitos dentro do movimento de independência.

"O acordo acomoda as duas visões da maioria do movimento pela independência", disse o secretário-geral do JXC, Jordi Sánchez, na entrevista coletiva com Aragonés.

Isto implicará que o novo Executivo catalão fará "uma aposta clara para entrar numa fase de negociações", cujos resultados serão avaliados em dois anos para decidir se continua apostando neste diálogo, ou se "segue avançando rumo à república catalã", afirmou Aragonés, sem especificar em que consistirá este plano B.

Abandono das vias unilaterais

"Esperamos que as três siglas pró-independência tenham compreendido que a formação do governo deve levar ao abandono das vias unilaterais, que já sabemos para onde nos conduzem", advertiu a porta-voz do governo espanhol, María Jesús Montero.

Em janeiro de 2020, Pedro Sánchez concedeu ao ERC a criação de uma mesa de negociações para resolver o conflito catalão em troca de permitir que ele fosse empossado como presidente de um governo minoritário de coalizão entre socialistas e o Podemos (esquerda radical).

Este fórum de diálogo foi paralisado pela pandemia e deve ser reativado assim que for formado um governo na Catalunha, embora as posições iniciais sejam muito distantes.

Os separatistas exigem anistia para seus líderes presos, ou exilados, além da realização de um referendo de autodeterminação. Os socialistas, que dependem em parte do ERC no Congresso, rejeitam ambos os pedidos.

Segunda região mais populosa e rica da Espanha, a Catalunha, com 7,8 milhões de habitantes, viveu uma década de "boom" separatista que levou, em 2017, a um referendo pela independência considerado ilegal por Madri e à fracassada proclamação de uma república. Repetidas pesquisas mostram uma sociedade dividida sobre este tema.

(Com informações da AFP)