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Com apoio de Marine Le Pen, policiais franceses protestam em frente ao Parlamento

19/05/2021 14h59

Milhares de policiais franceses se manifestaram nesta quarta-feira (19) em frente à Assembleia Nacional para exigir mais severidade aos agressores das forças de segurança. A manifestação, convocada pelos sindicatos da polícia, duas semanas após o assassinato de Eric Masson, um policial de Avignon morto por um traficante de drogas, teve a presença do ministro do Interior, Gérald Darmanin, e "total apoio" da líder de extrema direita, Marine Le Pen, que estava em Bordeaux. Seu partido, o Reunião Nacional (RN), tem se utilizado do tema da segurança para angariar simpatizantes e votos. 

A um mês das eleições regionais na França e a apenas um ano das presidenciais, para as quais já se configura uma nova disputa entre o presidente Emmanuel Macron (centro) e Marine Le Pen, o ambiente era particular na tarde desta quinta-feira (19) em frente à Assembleia Nacional francesa, em Paris. No início desta semana, os sindicatos da polícia convocaram os cidadãos a se juntarem a eles, o que abriu a brecha para os políticos, mudando totalmente o tom da manifestação.

Em meio à campanha pelas regionais, toda a classe política francesa compareceu ao protesto dos policiais, exceto A França Insubmissa, o partido de esquerda radical liderado por Jean-Luc Mélenchon.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, que se diz às vezes mais radical que Marine Le Pen, esteve presente para "cumprimentar" os policiais, e quase todos os membros eleitos do partido de extrema direita Reunião Nacional (RN) estavam lá, exceto a própria Le Pen, que foi visitar uma delegacia de polícia em Bordeaux.

Vários representantes do partido Os Republicano, de direita, Olivier Faure, do Partido Socialista, e Fabien Roussel, do Partido Comunista, além de Yannick Jadot, do Europa Ecologia Os Verdes, estiveram presentes. 

A direita e a extrema direita estavam fazendo "sua parte" nos dias que antecedem as eleições regionais, já que a segurança é o seu "mantra" e eles sabem o peso político que ela desempenha na cabeça dos eleitores. Já para os políticos de esquerda, o objetivo é ocupar a rua, para mostrar que eles também se preocupam com as demandas da polícia. Mas a utilização política destas presenças não é necessariamente bem vista pelos policiais que convocaram o ato.

"Eles não vão sequestrar a palavra da polícia e dos cidadãos", alertou Olivier Hourcot, do sindicato policial Alliance. "Não é um fórum político. Eles terão outros espaços. Eles estão se preparando para as eleições. Eles terão projetos para defender e demandas para realizar. Mas hoje é a palavra dos policiais e dos cidadãos. Se eles [os políticos] estão lá para apoiar a polícia, tudo bem. Se amanhã eles estiverem no comando, terão que resolver o problema por conta própria. A polícia espera muito deles", declarou. 

Penas mais duras

A um ano das eleições presidenciais, a polícia francesa pressiona os dirigentes por uma resposta penal mais forte para os crimes cometidos contra os seus pares. Para eles, a Justiça deve ser mais firme e mais rápida quando há um ataque às forças de segurança.

O governo do presidente Emmanuel Macron tenta apaziguar os ânimos. Mais € 10 milhões foram anunciados pelo primeiro-ministro Jean Castex há dez dias, um montante que vai reforçar a segurança das tropas. Mas há também a lei de segurança global, que, segundo Castex, vai fortalecer o arsenal jurídico da polícia.

Mas essas medidas não são suficientes para os manifestantes. Alguns estão pedindo a implementação de sentenças mínimas obrigatórias. Outros simplesmente gostariam da aplicação das sentenças existentes.

A violência contra os encarregados da aplicação da lei dobrou em 20 anos na França. No início do ano, mais de 85 incidentes de "violência contra pessoas que detêm autoridade pública" foram registrados diariamente em todo o país, apenas para a polícia nacional.

A polícia está esgotada. Alguns vão trabalhar com uma bola no estômago. E acima de tudo, eles se sentem cada vez mais rejeitados por parte da população. 

(Com Alexis Bedu, enviado à Assembleia Nacional)